A conjuntura geopolítica a nível mundial permanece turbulenta sem que haja sinais confiáveis de estabilização. Pelo contrário, as expectativas atuais são de um potencial agravamento com impacto em geografias cada vez mais diversas. Vivemos, assim, num cenário adverso ao investimento estratégico e à tomada de decisões estruturantes focadas no desenvolvimento e crescimento das economias.

Apesar deste contexto, os principais indicadores económicos nacionais apresentam em 2025 valores moderadamente positivos. O PIB regista um crescimento em percentagem superior à média europeia, a inflação reduziu e as taxas de juro estão em descida progressiva, aliviando os custos de financiamento das empresas e das famílias.

O TCO Index da Ayvens – indicador criado em março de 2022, e que visa medir a evolução do custo total de utilização de um cabaz de marcas e modelos representativo das frotas nacionais – desceu 6 pontos percentuais entre novembro de 2024 e junho de 2025 (Figura 1), fixando-se agora nos 117 pontos.

Figura 1

Esta redução deve-se, sobretudo, à diminuição do peso da componente de impostos que compõe o índice. São, portanto, boas notícias para todos os gestores de frota que estejam neste momento envolvidos no processo de preparação de orçamentação para o próximo ano.

A jornada de eletrificação prossegue a bom ritmo

Na edição anterior (junho de 2025) levantámos a dúvida sobre se as alterações dos escalões e das taxas de tributação introduzidas em Portugal em 2025, juntamente com o alívio concedido aos fabricantes automóveis pela Comissão Europeia para cumprimento das metas de emissões de CO2 ser medido e produzir consequências (eventuais multas) apenas em 2027, abrandariam o ritmo de eletrificação das frotas das empresas. Podemos à data de hoje confirmar que as empresas não estão a abrandar a sua jornada de eletrificação e que os fabricantes automóveis permanecem focados no cumprimento das metas a que estão obrigados.

Os contratos de renting já realizados em 2025, em conjunto com a projeção das previsões até ao final do ano, indicam que quase metade dos contratos celebrados corresponderão a veículos eletrificados, dos quais, metade, serão 100% elétricos.

Para este resultado contribui o facto de os descontos médios das encomendas dos veículos 100% elétricos registarem um aumento de 21% nos últimos 12 meses, o que compara com um aumento de apenas 4% nas motorizações PHEV e gasolina e com uma redução de 7% nos diesel, que se tornaram a propulsão menos popular na União Europeia (Figura 2).

Figura 2

A título de curiosidade, a seleção das marcas e modelos a concurso na eleição anual do Carro de Frota Ayvens, assente em critérios de vendas combinados com custos totais de utilização, tem sido dominada nos últimos anos por veículos eletrificados e os vencedores dos últimos 2 anos foram já modelos 100% elétricos (Volvo EX30 e Renault Megane E-Tech).

Outro fator impulsionador do crescimento dos veículos 100% elétricos nas frotas empresariais é induzido pelos próprios fabricantes que, estando obrigados a cumprir as referidas metas, negoceiam já no pressuposto de a parte compradora se vincular a encomendar uma percentagem mínima destas motorizações.

Complementarmente, e ainda do lado da oferta, esta tendência é igualmente reforçada no sentido em que o pipeline previsto de modelos a produzir por todos os fabricantes até 2030, resultará no aumento da oferta de 180 novos modelos eletrificados e numa redução de 149 modelos a combustão.

A par do aumento dos descontos, os veículos elétricos têm registado também uma diminuição dos preços base. A paridade de preço entre modelos 100% elétricos e modelos a combustão já é uma realidade nos segmentos mais altos e espera-se que o mesmo aconteça para os segmentos de maior volume de vendas ao longo dos próximos 3 anos.

Fará ainda sentido registar que a atratividade dos veículos elétricos novos poderá aumentar à medida que o mercado de usados se torne mais dinâmico. Existem oportunidades significativas de melhoria em áreas como a diversidade da oferta de modelos, o aumento do número de comercializadores ou a confiança dos consumidores, designadamente ao nível do estado das baterias. Assim que estas barreiras sejam progressivamente ultrapassadas, o mercado ganhará maior escala e poderemos perspetivar impactos positivos no TCO dos veículos elétricos novos.

Uma nota final para atualizar os restantes elementos inerentes ao ecossistema da mobilidade elétrica, confirmando que este continua a fortalecer-se em diversos domínios:

  1. O custo das baterias – o componente mais oneroso do veículo elétrico – tem ainda, segundo analistas do sector, margem de descida significativa que poderá chegar aos 30% até 2027, desbloqueando diversos veículos elétricos abaixo dos 25.000 euros;
  2. A infraestrutura de carregamento em Portugal e na Europa continua a crescer a bom ritmo e a desenvolver-se no sentido de dar cumprimento à procura do mercado e às ambições e normativos incluidos no regulamento AFIR;
  3. Foi publicado em Portugal, no passado mês de julho, o novo regime jurídico da mobilidade elétrica em Portugal, que visa promover maior concorrência, aumentar a transparência dos preços e garantir o acesso universal aos pontos de carregamento; atendendo aos impactos potenciais, a Ayvens tem já um grupo de trabalho ativo com o objetivo de produzir recomendações de adaptação ao novo contexto legal.

“A nossa voz, a voz da Ayvens Portugal, é ouvida”. Entrevista a António Oliveira Martins, diretor geral da Ayvens em Portugal

O que devo fazer enquanto Gestor de Frota?

Nunca é demais reforçar o papel determinante do Gestor de Frota neste contexto turbulento em que o mercado automóvel tem vivido.

Cabe-lhe a responsabilidade de recolher todos os dados do mercado e transformá-los em informação relevante para produzir as suas próprias recomendações para a tomada de decisão a acionar pela administração da sua empresa.

Neste contexto, tomo a liberdade de sugerir o seguinte:

  1. Avance para a eletrificação da sua frota; a mobilidade elétrica veio para ficar e já é economicamente vantajosa. Peça aos seus consultores uma quantificação do impacto positivo nos seus custos com base na análise ao custo total de utilização;
  2. Solicite aos seus parceiros informação periódica sobre alterações regulatórias e fiscais, nomeadamente no que respeita ao novo regime da mobilidade elétrica;
  3. Alargue o seu leque de escolhas de marcas e modelos para identificar as melhores oportunidades numa conjuntura atual muito volátil;
  4. Obtenha uma análise comparativa que permita avaliar como a sua política de frota se posiciona face às empresas concorrentes ou de referência, e tome medidas para eliminar eventuais diferenças desfavoráveis.

Três anos após a última publicação, a Ayvens Portugal divulgará no quarto trimestre de 2025 os resultados da edição atualizada do seu estudo Car Policy Benchmark. A análise ao mercado de frotas nacional refletirá a recolha extensiva de dados reais das frotas a circular em Portugal, consituindo um elemento de análise essencial para os frotistas nacionais. Tome nota na sua agenda para obter o seu exemplar. Na próxima edição partilharemos os principais resultados e conclusões.