Há pouco mais de quatro anos, o desígnio da descarbonização do sector dos transportes parecia uma miragem.
Por um lado, vivia-se um quadro de estagnação do sistema de transportes públicos, com oferta encolhida, frotas antigas e poluentes e preços altos, que empurravam os cidadãos para soluções de transporte individuais. Por outro lado, as empresas não vislumbravam soluções que, sendo mais amigas do ambiente, fossem também competitivas face à oferta clássica de veículos, sobretudo diesel mas também a gasolina.
Iniciámos nessa altura, a partir do Ministério do Ambiente, o desenho de um caminho orientado para a eletrificação do sistema de mobilidade. Os recursos financeiros de que dispúnhamos à data foram alocados aos incentivos à aquisição, aos benefícios fiscais e, também, à expansão da rede de carregamento, a qual, com a liberalização operada, está agora em franca expansão.
Muitos disseram que a curva de adesão ao veículo elétrico seria muito lenta, sem efeitos visíveis nos próximos anos. A esses contrapusemos sempre que estávamos no caminho certo e que quando as frotas empresariais iniciassem a transição, então a equação alterar-se-ia.
A verdade é que, apenas quatro anos depois, Portugal é dos países europeus com maior penetração dos veículos elétricos, medida em percentagem ao total de vendas anuais de veículos, com taxas de crescimento de três dígitos, se considerarmos elétricos a bateria e híbridos plug-in. Por outro lado, os dados mais recentes das emissões das frotas de veículos elétricos revelam a liderança de Portugal à escala europeia.
O sector das frotas é chave nesta transição. Bem percebemos que não se acaba com os veículos a combustível fóssil da noite para o dia, desde logo por razões operacionais relacionadas com as autonomias e os tempos de carregamento. Mas também sabemos que a excelência deste sector tem revelado uma assinalável capacidade de adaptação. Há uns anos dizia-se que não era possível oferecer soluções de aluguer operacional de veículos elétricos, mas a realidade mostra hoje que tudo isso vai sendo ultrapassado.
Uma parte substancial das necessidades de mobilidade das empresas em veículos ligeiros caracteriza-se por padrões de deslocação de distâncias que não ultrapassam a centena de quilómetros diária, frequentemente em espaço urbano. Ora para essas situações, que são a maioria, a eletrificação é uma solução tecnicamente viável, economicamente atrativa e socialmente benéfica. O potencial de redução de emissões de CO2 é naturalmente muito maior nas frotas empresariais, porque realizam um volume de quilómetros maior ao longo do ano.
O elemento crítico da tomada de decisão em matéria de frotas empresariais foi tradicionalmente o fator custo. Nos tempos mais recentes, as emissões de CO2 começaram a ser colocadas na equação, inicialmente por razões de conformidade ambiental e de responsabilidade social. A verdade é que hoje os euros e os ganhos de emissões são faces de uma mesma moeda. E é muito importante que o sector das frotas interiorize esta alteração de paradigma.
José Gomes Mendes recebeu o Prémio Fleet Magazine para “Personalidade do Ano” 2019, justificado pelo importante papel desempenhado como secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade na promoção da mobilidade e descarbonização dos transportes