Ricardo Silva é director comercial adjunto de business development na LeasePlan Portugal
Por: Ricardo Silva, Leaseplan
Vamos debruçar sobre a contagem decrescente para a entrada em vigor da meta histórica de 95g de CO2 por quilómetro para a indústria automóvel, bem como o que nos espera e requer de todas as partes interessadas, durante o ano de 2020.
Importa começar por explicar que a média das 95 gramas não significa que todos os fabricantes tenham de alcançar 95g pois, com efeito, as metas variam entre os diferentes fabricantes em função daquilo que é o peso médio (Kg) do seu portfólio de vendas.
Por exemplo, a Volvo tem um target 105g, quando a FCA (Fiat Chrysler Automobiles) tem um target de 90g.
Já o “incentivo” do regulador é igual para todos pois, para quem não cumprir as metas, existe uma penalização de 95€ por cada grama excedida, multiplicada por todas as vendas desse fabricante.
Para ter uma ideia do que isto representa, se as coimas fossem aplicadas hoje, estaríamos a falar de valores na ordem 35 mil milhões de euros, quase metade dos lucros dos fabricantes de automóveis.
Entretanto, em 2018, foram vendidos 2 milhões de veículos elétricos com recarga externa (100% elétricos e Plug-in), 385 mil destes na Europa, o que representa um crescimento, no mercado europeu, de 33% correspondente a uma quota nas vendas de 2,5%.
Em Portugal, o crescimento foi maior pois duplicámos as vendas e alcançámos uma quota de 3% das vendas. Tudo isto com um forte contributo do renting que triplicou as vendas deste tipo de veículos.
Todavia, a verdade é que as emissões médias subiram nos últimos 2 anos, regredindo para históricos de 2014.
Em média, os principais fabricantes ficaram a 25 g do objetivo (95g) e apenas 2 conseguiram reduzir as suas emissões – Nissan e Toyota. Aliás, a Toyota é, atualmente, o fabricante melhor posicionado, estando a apenas 8g do target.
Perante estes dados, facilmente se percebe a enorme dimensão do desafio, antevendo algumas consequências, como:
- Menor flexibilidade por parte dos reguladores;
- Fiscalidade agravada para os veículos a combustão;
- Menor número de versões disponíveis, em benefício das menos poluentes;
- Menor produção de veículos a combustão interna;
- Maior escrutínio sobre os principais agentes “produtores” de CO2
Os desafios da Mudança
De acordo com estudo LeasePlan Mobility Monitor temos a favor da mudança que 87% dos portugueses concordam com a eletrificação dos automóveis e que 51% manifesta intenção de mudar, tendo como principal motivação o contributo para a causa ambiental, a expetativa de redução de custos (energéticos e e manutenção), e a fiscalidade favorável, especialmente relevante no universo empresarial.
Mas os principais desafios mantêm-se: o custo, a quantidade de modelos disponíveis, a autonomia e a infraestrutura de carregamento.
1. Custo
De acordo com o estudo LeasePlan “Motorizações 2.0”, no caso das empresas, já existem condições para a mudança.
Por exemplo, no caso do segmento pequeno familiar, e à semelhança do estudo do ano passado, o elétrico apresenta-se como a melhor solução a partir de 25.000 kms por ano, ampliando essa vantagem à medida que a quilometragem anual sobe.
Os benefícios fiscais e a poupança energética são os catalisadores que anulam o maior custo de aquisição.
Já no caso dos plug-in, o custo de aquisição é demasiado elevado e a poupança energética modesta, face ao Diesel.
A gasolina, apresenta-se como a melhor solução para quilometragens anuais até 20.000 quilómetros e, curiosamente, nos 25.000 quilómetros anuais dá-se a paridade entre as motorizações elétrica, gasolina e Diesel.
De assinalar que o Diesel “perde” em quase toda a linha.
2. Oferta
No que diz respeito à oferta, 2020 trará novidades que se espera dinamizar as soluções alternativas, com o crescimento das soluções elétricas de 39 para 58 modelos e plug-in de 43 para 54 modelos.
Destaca-se o VW ID.3 pelo seu posicionamento anunciado de PVP (30.500€), bem abaixo dos concorrentes diretos.
Mas, como não há bela sem senão, é provável que o mercado português seja preterido para mercados maiores em caso de escassez de produto, pelo que a materialização efetiva deste crescimento está revista de alguma incerteza.
3. Autonomia
Apesar da autonomia ter vindo a crescer, continua a ser uma das grandes limitações à adoção dos elétricos.
Perante o desafio de equilibrar o binómio preço-autonomia, a indústria tem vindo a desenvolver um caminho desbloqueador; a velocidade de carregamento.
Quanto mais rápido for o abastecimento de eletricidade, menor será a ansiedade da autonomia.
Por exemplo, o novo Peugeot e-208 já alcança velocidades de carregamento de 100 kWh, o equivalente a 440kms por hora, ou a uma carga completa em meia hora para mais 295kms.
Assim, a combinação de autonomias e velocidades de carregamento derrubam barreiras neste desafio.
4. Infraestrutura
Autonomias e velocidades de carregamento crescentes só são eficazes se houver uma infraestrutura de carregamento à medida e, para 2020 esperam-se boas novidades nesse sentido.
A privatização da rede MOBI.E e consequente dinamização, a parceria entre a Galp e o Grupo SONAE a “prometer” 680 postos de carga semi-rápida (22kWh), a parceria entre a EDP e a BP com 30 postos rápidos (50kWh), o reforço da rede Tesla de Superchargers (150kWh) e de Destination Chargers (19kWh) e o crescimento da rede Ionity com 340 postos ultra-rápidos (350kWh) distribuídos por 3 países onde se inclui Portugal.
Neste esforço conjunto, a LeasePlan mantém o seu compromisso vanguardista e lançará, ainda este ano, uma solução integrada para a mobilidade elétrica.
Um serviço que compreende o aluguer do veículo elétrico, carregador para casa e/ou escritório, instalação do carregador, cartão para abastecimento nas redes públicas, veículo de substituição a combustão para quando necessário e ainda aconselhamento especializado para todas as fases da adoção elétrica, tanto para os gestores de frota como para os seus utilizadores.