“’Carro’ não é uma palavra suja. A nossa área de especialização é alugar e gerir veículos e fornecer soluções inteligentes em torno de veículos”
Alain Van Groenendael é o novo CEO da Arval desde 1 de janeiro de 2019.
Na hora da despedida, o seu antecessor, Philippe Bismut concedeu uma entrevista aos nossos parceiros Fleet Europe onde faz uma retrospeção do seu trabalho na gestora do grupo PNB Paribas.
É parte importante dessa entrevista que transcrevemos a seguir.
“Há emoções mistas mas, essencialmente, sinto-me um jovem num acampamento de verão pouco antes de acabarem as férias”, começa por confessar sorridente Philippe Bismut.
Mas se é semelhante ao final de um acampamento de verão, o que há de tão especial em sair da Arval?
Depois de quase uma década no comando, desenvolve-se um vínculo especial com as pessoas e as equipas, vivenciando todos os altos e baixos da vida empresarial em conjunto. Lutas, batalhas árduas, mas também triunfos. É isso que torna a experiência tão especial.
Juntou-se à Arval em 2002 como CEO do Reino Unido e é CEO da Arval desde o início de 2011. De que se orgulha mais?
Em primeiro lugar, tive muita sorte durante toda a minha carreira na Arval. Houve uma série de triunfos. Sinto-me orgulhoso com toda a equipa. A Arval tem pessoas incríveis, um incrível senso de empreendedorismo, uma mentalidade incrivelmente positiva e criativa.
Como líder, fui apenas o facilitador.
Pessoalmente, estou muito orgulhoso do nosso modelo de gestão de contas. É um sistema único; não o inventei mas fiz disso uma componente central da nossa política. Criámos equipas e deixámos que se relacionassem individualmente com os clientes; isso é o oposto da sabedoria convencional, que diz que é preciso agrupar para gerar eficiência.
Criamos muitas “Arvals”, o que aumentou a motivação dos nossos colaboradores. E a satisfação dos nossos clientes. E a eficiência do nosso negócio! Logo, esta foi uma aposta vencedora.
“O facto de ser cada vez mais uma tendência passarmos a lidar diretamente com o consumidor final muda a escala da nossa indústria”
E qual foi a circunstância mais difícil?
Houve um período, em 2011/2012, quando tivemos um problema com a liquidez em consequência da crise em 2007/2008, em que tivemos de desacelerar o negócio por essa razão.
Travar o ritmo foi difícil e frustrante, porque sentimos que existiam muitas oportunidades. Fora isso, fui abençoado e os planetas estiveram alinhados de maneira acertada.
O que é preciso para ser um bom CEO?
A vida empresarial é difícil e instável, por isso a versatilidade é essencial. Posso ilustrar com uma metáfora: “Quando está-se movendo algo para cima, deve saber-se empurrar. Quando as coisas estão caindo ladeira abaixo, deve ser-se capaz de travar”. Não são exatamente os mesmos talentos.
Logo, a mensagem é: “adapte o seu estilo de gestão à natureza do desafio”. Às vezes é preciso ser cuidadoso, conservador. Outras vezes é exigida uma abordagem mais ousada.
“Não gosto do termo ‘mobilidade’: é vago e inclui coisas que sempre fizemos. A essência é a disponibilidade de soluções flexíveis”
Na sua opinião, para onde vai a indústria da frota e da mobilidade?
Está a obrigar-me a fazer prognósticos. Como sabe, as previsões são difíceis, especialmente sobre o futuro.
No entanto, o facto de ser cada vez mais uma tendência passarmos a lidar diretamente com o consumidor final muda a escala da nossa indústria. Já não estamos mais a pescar num lago mas no oceano.
Claro que haverá desafios: temos que trabalhar preços, processos e as necessidades do cliente. Mas esta é a nova fronteira.
Como resultado, as frotas das empresas tenderão a concentrar-se nos carros de serviço, ou, por outras palavras, nos carros para os vendedores e nas versões comerciais destinadas a serviços técnicos.
Os dois principais tópicos da indústria hoje são Mobilidade e Elétricos. Mas a lacuna entre a teoria e a prática ainda é muito vasta. São tendências reais ou estamos a cair na moda do falar só por falar?
Definitivamente não é blá-blá-blá. Há uma necessidade real – e precisa – de abordar, primeiro as questões ambientais, depois o congestionamento urbano. Os carros têm um papel a desempenhar.
Não gosto do termo “mobilidade”: é vago e inclui coisas que sempre fizemos, como caminhar e andar de bicicleta. A essência é a disponibilidade de soluções flexíveis, porta-a-porta, por encomenda, através de uma combinação de opções de transporte público e privado.
A Arval faz parte desse ecossistema e, para nós, a base continua a ser o carro. Mas isso não significa que excluamos ou ignoramos o resto.”
Se tivesse uma varinha mágica, qual seria a coisa que mudaria nas frota e na indústria do renting?
Para já, gostaria de mudar a atitude dos fabricantes de automóveis no que toca a fornecer o acesso aos dados do carro.
Atualmente, somos forçados a instalar dispositivos secundários de telemetria, embora os dados que obtemos possam ser disponibilizados diretamente pelos próprios veículos. É uma vergonha, porque cria uma complexidade onde poderia haver cooperação.
A maioria dos concorrentes redirecionou explicitamente os veículos para a mobilidade. A sua linha de orientação foi “Nós importamo-nos com carros”. Porquê?
Porque gostamos de carros.
“Carro” não é uma palavra suja. A nossa área de especialização é alugar e gerir veículos e fornecer soluções inteligentes em torno de veículos. É claro que podemos agregar ou fazer parte de um ecossistema de soluções de mobilidade. Mas os carros continuarão a ser um componente fundamental de qualquer solução que fornecermos.
Qual é o seu conselho para uma start-up que entre nas frotas e no sector de mobilidade?
Uma APP não é a solução.
Mobilidade é sobre pessoas, equipamentos, infraestruturas. Mesmo que se tenha uma ideia acertada, não podemos esperar que se espalhe rapidamente. Devemos ser pacientes e obter apoio para a mudança.
Que conselho deixa ao seu sucessor?
Serei modesto e não deixarei nenhum conselho. Não acho que um conselho meu seja valioso. Na minha opinião, quando se está fora do jogo, está-se fora do jogo.
Alain é um gestor experiente, com um excelente histórico em gestão de finanças e consumo. Nós desenvolvemos uma estima mútua, diria até mesmo uma amizade. Logo, a transição será muito suave, o que é bom para ambos, mas também bom para a equipa e para a empresa. Alain está pronto.
E você? Não tem medo de cair num vazio?
Não. Para mim, a reforma não é um vazio; é uma página em branco. Há que se reinventar.
Acredite ou não, ainda não tenho planos claros. Antes de mais, gostaria de ter uma vida mais equilibrada, com o luxo do tempo.
Tempo para passar com minha família e amigos, desfrutar de algumas paixões e ajudar os jovens. Ensinar jovens desfavorecidos sobre finanças, por exemplo.