Se a sua empresa ainda não definiu uma Política de Frota e de Mobilidade em conformidade com os princípios ESG, este é o momento certo para o fazer. Mesmo que a Diretiva CSRD seja implementada de forma faseada, é praticamente certo que empresas que fazem parte da cadeia de valor de grandes grupos, empresas cotadas ou multinacionais vão começar a exigir aos seus fornecedores dados e indicadores de sustentabilidade, responsabilidade social e boas práticas de governação

Aspetos como a eletrificação da frota, a redução das emissões de CO2, a segurança dos colaboradores e a transparência nos processos ganham cada vez mais peso nas decisões de parceria e fornecimento. Para apoiar as empresas na resposta a este desafio, apresentam-se alguns princípios orientadores para a construção de uma Política de Frota e de Mobilidade alinhada com os princípios ESG, com critérios e sugestões adaptáveis à realidade de diferentes organizações.

Neste contexto, independentemente da dimensão ou sector de atividade, o documento deve refletir que a entidade responsável valoriza os seus colaboradores e respeita o equilíbrio entre exigência operacional e dignidade no trabalho. Princípios claros e bem definidos são fundamentais para reforçar a sua aceitação interna, sobretudo se vierem a implicar mudanças no modelo de atribuição ou utilização da viatura.

O documento final deve estar alinhado com as boas práticas de Sustentabilidade Ambiental, Social e de Governança (ESG), em conformidade com as diretrizes da União Europeia e os compromissos de sustentabilidade da empresa. Deve ainda ser revisto periodicamente, de modo a refletir eventuais alterações legislativas, tecnológicas ou estratégicas.

A desconstrução das Normas ESRS*

Objetivos

  • Otimizar a eficiência operacional e económica da frota, com base em critérios de responsabilidade ambiental e social;
  • Contribuir ativamente para os compromissos de sustentabilidade da empresa e para os objetivos de neutralidade carbónica da União Europeia, através da redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) associadas à frota automóvel e promovendo soluções de mobilidade mais sustentáveis;
  • Garantir a contabilização e reporte corretos das emissões nos Âmbitos 1, 2 e 3 (Scope 1, 2 e 3);
  • Garantir a segurança, saúde e bem-estar dos condutores e demais utilizadores da frota;
  • Estabelecer práticas de gestão, monitorização e reporte transparentes e responsáveis, em linha com os princípios de boa governança.

Critérios Ambientais (E)

  • Transição energética: Substituir progressivamente veículos movidos a combustíveis fósseis por veículos elétricos (VE) ou híbridos plug-in, com metas anuais de renovação da frota definidas;
  • Eficiência energética: Priorizar a aquisição de veículos com elevada eficiência energética, preferencialmente com classificação energética A ou superior;
  • Infraestrutura de carregamento: Instalar pontos de carregamento elétrico em instalações da empresa ou apoiar o carregamento doméstico dos colaboradores com viaturas de serviço;
  • Monitorização de emissões: Medir e reportar regularmente as emissões de CO₂ da frota, estabelecendo indicadores de desempenho ambiental;
  • Incentivo à mobilidade alternativa: Promover soluções de mobilidade alternativas, como partilha de viatura (carpooling), utilização de transporte público ou bicicletas, sempre que viável;
  • Gestão de manutenção sustentável: Implementar práticas de manutenção preventiva ambientalmente responsáveis e assegurar a correta gestão de resíduos perigosos (óleos usados, pneus, baterias, se aplicável).

Critérios Sociais (S)

  • Formação de condutores: Realizar ações periódicas de formação em condução defensiva, eficiente e sustentável aos condutores da frota e orientações sobre boas práticas no uso de veículos partilhados;
  • Segurança e conforto: Assegurar que todas as viaturas cumprem os requisitos legais e internos de segurança, higiene e ergonomia, com manutenção regular e equipamentos de segurança atualizados;
  • Bem-estar dos colaboradores (para frotas operacionais): Promover horários de condução que respeitem os limites legais e o equilíbrio vida-trabalho;
  • Equidade no acesso à frota: Garantir regras claras e transparentes para a utilização e reserva de viaturas partilhadas, promovendo igualdade de acesso entre colaboradores, sem discriminação por função, género ou hierarquia;
  • Privacidade e proteção de dados: Proteger os dados pessoais relacionados com o uso da frota (ex.: localização, tempos de condução, registos de utilização), assegurando conformidade com o RGPD;
  • Gestão de conflitos de uso: Estabelecer mecanismos de resolução de conflitos ou prioridades de utilização (ex.: situações de emergência, reservas múltiplas, etc.).

Critérios de Governança (G)

  • Política de aquisição e leasing sustentável: Incluir critérios ESG na seleção de fornecedores de viaturas e serviços de leasing, privilegiando parceiros que adotem práticas sustentáveis, transparência nos contratos e compromissos com a neutralidade carbónica;
  • Auditoria e reporte: Integrar os dados relevantes da frota (ex.: emissões de CO₂, consumo energético, tipo de combustível, número de acidentes, manutenção) no sistema de reporte da empresa e, sempre que aplicável, no Relatório de Sustentabilidade ou nos indicadores da CSRD;
  • Gestão de riscos: Implementar um sistema de identificação e avaliação de riscos associados à frota, incluindo riscos operacionais (ex.: acidentes, falhas de manutenção), reputacionais (ex.: emissões elevadas) e de compliance;
  • Conformidade legal e regulatória: Assegurar o cumprimento rigoroso de todas as normas nacionais e europeias aplicáveis à gestão da frota, incluindo regras ambientais, segurança rodoviária, proteção de dados e obrigações laborais;
  • Transparência e responsabilização: Definir papéis e responsabilidades claras na gestão da frota (ex.: utilizadores, gestores, fornecedores), com mecanismos de monitorização, feedback e melhoria contínua;
  • Integração com sistemas de gestão da empresa: Normativos internos de Compliance, normas ISO 14001 (norma internacional que define os requisitos para um Sistema de Gestão Ambiental, utilizada para melhorar o desempenho ambiental, cumprir obrigações legais e alcançar objetivos sustentáveis) e ISO 45001 (norma internacional que estabelece os requisitos para um Sistema de Gestão de Saúde e Segurança Ocupacional, visando ajudar a proteger a saúde física e mental dos trabalhadores e promover ambientes de trabalho mais seguros).