Para perceber de que forma o atual momento do mercado automóvel está a afetar as compras por parte das empresas e a impactar na sua política de frota é preciso identificar desde logo as causas principais:
- Escassez de oferta de produto dentro dos escalões habituais definidos para aquisição/renovação de veículos;
- Prazos de entrega que continuam a atingir os 12 meses, ou mais, para determinados modelos.
Esta continuada falta da oferta, o inesperado e muitas vezes contínuo prolongamento dos prazos iniciais para a entrega de alguns modelos, ou mesmo uma inusitada subida do custo de aquisição de um determinado automóvel no momento da entrega (da ordem de vários milhares de euros), mesmo que objeto de encomendado há vários meses, está inevitavelmente a provocar:
- Necessidade de extensões de contratos no caso de aquisições em renting/AOV;
- Necessidade de recurso a soluções de rent-a-car ou alugueres de curta duração, mais onerosos, para colmatar uma necessidade sempre que se torna inviável a extensão de financiamentos renting ou leasing, por exemplo, o que obriga à devolução da viatura;
- Renegociações sucessivas com as empresas gestoras de frota e/ou entidades financeiras para obtenção de novos valores de financiamento, necessário perante este inesperado aumento do custo de aquisição de uma viatura pré-encomendada há alguns meses;
- Redefinição de TCO perante este aumento inesperado do custo de aquisição (que invariavelmente resulta da conjugação do aumento do custo inicial com a redução da margem de desconto aplicada), daqui resultando um impacto financeiro que pode ser ainda mais significativo por razões fiscais (Tributação Autónoma, sobretudo).
Este quadro é ainda agravado por:
- Subida das taxas de juro;
- Incerteza quanto à evolução económica e seu impacto sobre a atividade da empresa ou mobilidade dos utilizadores dos veículos;
- Incertezas quanto à evolução das soluções mecânicas, da fiscalidade e das tendências de mobilidade em geral (a conjugação das três criando inevitavelmente a necessidade de uma revisão profunda das políticas de frota).
Tributação Autónoma sobre encargos com viaturas a vigorar em 2023
O que pode mudar na Política de Frota?
Por consequência, este pode ser um caminho que venha a ser seguindo pelas empresas relativamente às suas frotas automóveis (alguns já estão em prática):
- Redefinição de escalões de atribuição com downgrade de modelos ou estabelecimento de sistemas de pool com vista à redução de unidades;
- Procura de modelos em marcas com menos historial no mercado das frotas mas que, tendo disponibilidade de produto, são uma solução viável;
- Renegociação dos parâmetros de atribuição da viatura com o trabalhador, nomeadamente nas situações em que esta pode ser equiparada a um complemento salarial;
- Redefinição do modelo contabilístico de atribuição de viatura, optando por soluções de tributação na esfera do colaborador e deixando a este a possibilidade de escolha do modelo dentro de determinados parâmetros;
- Procura de soluções externas, nomeadamente entidades terceiras que façam a gestão da mobilidade diretamente com o trabalhador, de acordo com parâmetros estabelecidos pela sua entidade empregadora;
- No caso de viaturas com atividades operacionais, nomeadamente viaturas comerciais (assistência técnica, operações logísticas, atividades de âmbito promocional/comercial, etc….), aumento da entrega das operações a entidades externas (subcontratação/externalização de operações).
No momento atual em que isto constitui uma oportunidade:
- Para empresas de aluguer temporário de viatura sem condutor, em contratos de curta duração;
- Para soluções de aluguer flexível propostos por algumas empresas gestoras de frota ou cuja atividade principal decorre na área do rent-a-car;
- Para marcas automóveis até aqui com mais dificuldade de aceitação no mercado das frotas;
- Para marcas automóveis em geral que vêm crescer a rentabilidade das suas operações.
No que isto pode vir a constituir uma oportunidade:
- Para entidades como gestoras de frota, que podem desenvolver ou tornar mais atraentes soluções em que se assumem como parceiros privilegiados de mobilidade dos utilizadores das viaturas, cabendo-lhes gerir diretamente com estes o plafond atribuído pelas suas empresas (desejavelmente conjugando diversas formas de mobilidade);
- Para empresas cuja frota representa o maior custo a seguir à componente salarial, sendo porém aquela que representa maior risco de derrapagem das previsões devido ao aumento inesperado dos custos de utilização: combustível, energia, fiscalidade, sinistralidade, etc… Estas empresas podem encontrar no atual momento motivo suficiente para a redefinição da sua política de frota, ou mesmo virem a ser obrigadas a fazê-lo.