Um estudo do Avis Budget Group diz que 46% dos portugueses estão abertos a soluções como serviços on-demand ou de subscrição, como alternativas à propriedade automóvel.

Nesse sistema, o operador de MaaS (Mobility-as-a-service) oferece um conjunto diversificado de opções de transporte incluindo transportes públicos, táxis, TVDE, carros, motas, bicicletas e trotinetas partilhadas, boleias, aluguer e subscrição de automóvel ou uma combinação destes todos.

A empresa conseguiria assim oferecer aos seus colaboradores, numa única solução, várias opções que pudessem ser utilizadas à medida das necessidades dos colaboradores.

Mas a opinião de alguns gestores de frota vem mostrar como ainda não há praticamente nenhum programa de mobilidade além do carro de serviço.

“Não temos programa de mobilidade”, diz Tiago Cruz, procurement da Rovenza. “O que fazemos é comparticipar a deslocação do colaborador para o posto de trabalho. É atribuído um valor e entra no vencimento”.

Noutros casos, como na Abbott, os programas de mobilidade estão relacionados com situações específicas.

“Os diretores e chefias nas deslocações ao Porto ou Coimbra têm que fazer [as viagens] de comboio ou avião”, diz Jorge Lemos, gestor de frota da empresa do ramo da saúde. “Até porque só estas funções é que possuem viaturas plug-in”.

A EMEL atribui a todos os colaboradores o Passe Navegante e tem um código promocional para utilização das bicicletas GIRA, que fazem parte do seu próprio negócio. E a empresa de mobilidade ainda admite novos programas que “envolvam diversos meios de mobilidade e de algum modo colaborem para a dissuasão de uso do transporte privado”, diz fonte da empresa.

Empresas como a Tranquilidade, a LG, a McDonald’s ou a Randstad, também contactadas pela FLEET MAGAZINE, referem ainda não ter programas deste tipo.

O carro é um benefício para que idade?

Porém, parece começar a existir alguma recetividade a outros recursos por parte dos colaboradores.

Jorge Lemos diz que a direção da Abbot é mesmo a primeira a incentivar este tipo de medidas. Na McDonald’s, que aborda o assunto mais numa perspetiva de teletrabalho, as políticas são um “excelente impulsionador de produtividade”. Na EMEL, a utilização dos passes Navegante e da GIRA estão a aumentar consideravelmente.

Um lugar-comum muito ouvido sobre este tema é de que as gerações mais novas preferem cada vez mais outro tipo de complementos salariais em vez de carro de serviço. Será mesmo? “Muito pelo contrário, as pessoas valorizam a viatura”, diz Tiago Cruz, da Rovenza. “Parece ser um pouco a ideia de gerações mais jovens, mas muitas delas não têm direito a carro de serviço”, diz João Casimiro, da Fidelidade. “Das pessoas que têm direito, ainda nenhuma se manifestou nesse sentido”.

O mesmo acontece na Abbott ou na McDonald’s, que admite que essa já é uma realidade em alguns restaurantes europeus da multinacional americana.

No entanto, na LG, há colaboradores com idades até aos 30 anos que preferem outro tipo de remunerações e abordam a utilização da mobilidade pública como opção. Luís Lobato, da Randstad, concorda “para pessoas com menos de 30 anos isso é uma realidade, mas acima dessa faixa etária o carro ainda é visto como um benefício”.

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O que têm as locadoras para propor?

Em Lisboa, uma das maiores dificuldades é juntar a tecnologia de todos os operadores de transportes públicos debaixo de um único chapéu e articular os meios de pagamento.

A Locarent, por exemplo, admite a procura de soluções de mobilidade integrada, suportadas numa única conta e plataforma digital. Mas os desafios são muitos. “Uma solução neste plano é, por natureza, complexa e exige a integração de parcerias nos mais diversos ramos da mobilidade, desde os transportes públicos, passando pelo carsharing, ride-hailing, até outros serviços como os relacionados com o estacionamento ou soluções de carregamento elétrico”, diz.

Talvez por isso, nas gestoras de frota, o Mobility-as-a-Service está numa fase ainda incipiente.

A ALD Automotive é uma das gestoras com mais tradição na mobilidade multimodal. Em Portugal, conta com o serviço e-switch, que combina aluguer de viaturas elétricas com outras de combustão interna e o ALD sharing. Lá fora, existe o ALD 7 Wheel, que combina uma scooter de três rodas com as quatro rodas de um automóvel, o ALD Drive como serviço de entrega e levantamento das viaturas para serviço e o o Mobility card, o cartão de mobilidade que permite a utilização de qualquer tipo de serviço de transporte, desde o carro ao metropolitano.

Também a LeasePlan, que chegou em tempos a ter soluções deste género noutros países, está mais concentrada na mobilidade a partir do automóvel ou, como agora tem vindo a descrever-se, em serviços de car-as-a-service.

“A Locarent quer ir muito mais longe [do que as opções suportadas em rent-a-car] e consubstancia uma ambição clara em criar novas soluções integradas neste âmbito”, diz Maurício Marques, desta locadora.

A Europcar assumiu recentemente o interesse em negócios alternativos de mobilidade. “O grupo tem apostado em novas modalidades, como o corporate carsharing (através da marca Ubeeqo), de forma a responder às emergentes necessidades de um público empresarial em constante movimento e disposto a adoptar soluções de mobilidade mais sustentáveis”, diz Nuno Barjona, Head of Marketing & Urban Mobility do grupo.

Via Verde para a Mobilidade

A Via Verde tem sido apontada como a empresa mais próxima desta solução, com o Via Verde Transportes, que congrega serviços da rede Fertagus, SulFertagus e Transtejo Softlusa. Com a empresa-mãe, a Brisa, com a experiência ganha na DriveNow (parceria descontinuada) e outra empresa do grupo focada em soluções de mobilidade (a A-to-B) e o lançamento de uma app para partilha de boleias e, mais recentemente, a abertura de uma parceria com a LeasePlan para renting de viaturas, bastaria apenas unificar estes diversos modelos para ter uma oferta única.

Fiscalidade da mobilidade

Existem benefícios fiscais para quem promove a mobilidade dos colaboradores. As empresas podem deduzir o custo dos passes sociais em 130% no IRC, bem como na compra de bicicletas ou na contratação de sistemas de carsharing e bike-sharing. Os sistemas de carsharing têm sido, aliás, uma das soluções de mobilidade mais usadas além das próprias viaturas de empresa (ao lado do tradicional táxi ou TVDE). Mas a unificação de todos os sistemas está longe de acontecer. No entanto, cresce o número de municípios portugueses que tem mostrado intenção de encerrar o trânsito automóvel a determinado tipo de veículos em áreas delimitadas, a exemplo do que já acontece em algumas cidades europeias. Lisboa está neste momento a discutir um plano para o fazer. E estes constrangimentos à circulação e ao estacionamento podem vir a ser o motor a uma maior utilização de soluções multimodais de mobilidade.

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