Aos quarenta anos, a Renault Espace mudou de género e passou de monovolume a SUV. Uma metamorfose ditada pelas tendências atuais dos consumidores europeus.
Premeditado ou não, a anterior geração do Espace deu sinais de isto poder vir a acontecer. E com o reduzido interesse pelo género monovolume, depois de descontinuados o Scenic e o Grand Scenic, a marca francesa rendeu-se definitivamente ao conceito SUV.
A sexta geração do Renault Espace é nada mais, nada menos, do que uma versão mais longa do Renault Austral, sendo proposta com cinco ou sete lugares. Juntos com o Rafale, a versão coupé, este trio de modelos partilham mecânica, equipamento e interiores e assentam sobre uma mesma base que estica e encolhe consoante a carroçaria que acolhe, plataforma que também serve de base ao Nissan Qashqai e Nissan X-Trail.
A plataforma CMF-CD, concebida para poder albergar até 32 tecnologias de ajuda à condução, entre os quais o Multi-Sense e o sistema 4CONTROL Advanced, que permite a viragem das rodas traseiras em até 5º, recebe um única mecânica híbrida a gasolina/elétrico de 200 cv.
Esta potência resulta da força conjugada de um motor 1.2 de 130 cv/205 Nm, a um grupo elétrico alimentado por uma bateria de iões de lítio de 2 kWh/400 V. A unidade principal deste duo elétrico é um motor de 50 kW/70 cv e 205 Nm de binário, enquanto a unidade secundária consiste no motor de arranque/gerador de alta voltagem (25 cv/50 Nm), que assegura o arranque do motor a gasolina e opera as trocas de relações.
O novo Renault Espace assume consumos médios de 4,6 a 4,9 litros aos 100 km em ciclo combinado WLTP, para emissões CO2 de 104 a 110 g/km, 35% a menos do que o seu antecessor.
Versões e preços do Renault Espace 2023
Jantes de 19 (iconic) ou 20 polegadas nas restantes versões. Mecanicamente todas apresentam as mesmas características e a velocidade máxima limitada em 175 km/h.
Versões de 5 lugares:
- techno: a partir de 45 499 euros;
- esprit Alpine: a partir de 48.299 euros;
- iconic: a partir de 50.299 euros
Versões de 7 lugares:
- techno: a partir de 45.500 euros;
- esprit Alpine: a partir de 48.300 euros;
- iconic: a partir de 50.300 euros
Tecnologia E-TECH híbrida da Renault. Síntese dos princípios fundamentais
Características da tecnologia mecânica híbrida
A solução híbrida utilizada pelos novos modelos da Renault é uma evolução da tecnologia E-TECH apresentada há pouco mais de três anos (ver ligação acima).
Concebida para colocar um motor a gasolina a trabalhar em paralelo com um motor elétrico que possui capacidade motora independente, grande parte da eficácia reside na utilização do segundo motor elétrico e da caixa de velocidades automática multimodo.
Concebida com base na experiência amealhada pela Renault na Fórmula 1, esta transmissão sem embraiagem tem como tarefas otimizar a eficiência e dar fluidez às passagens de caixa.
Várias tecnologias concorrem para a eficiência mecânica deste trio de motores:
- Um sistema de ignição e regeneração totalmente elétrico, que entra em ação automaticamente assim que se abranda ou trava, permite conduzir em ambiente urbano até 80% do tempo em modo totalmente elétrico;
- Um sistema de gestão automática carrega a bateria de acordo com as indicações dadas pela transmissão, embora possa ser selecionado um dos quatro modos de travagem regenerativa através de patilhas no volante ou das regulações do sistema multi-sense;
- Com base nas informações recebidas através do sistema de cartografia, a tecnologia de condução híbrida preditiva maximiza a utilização de energia elétrica na viagem, através de uma gestão inteligente da energia até ao destino definido no navegador.
A direção dos fluxos de energia é mostrada no painel de instrumentos. Assim que o condutor alivia a pressão sobre o acelerador ou pressiona o travão, os momentos de regeneração iluminam-se.
A caixa de velocidades automática multimodo possui até 15 combinações possíveis de relações de transmissão (duas para engrenagens no motor elétrico, quatro para o motor a gasolina, 3×5 em modo combinado), selecionando a melhor opção em função do tipo de condução e trajeto:
- Totalmente elétrico (apenas o motor elétrico garante a locomoção);
- Híbrido dinâmico (o motor de combustão e o elétrico combinam-se para fazer mover as rodas);
- e-drive (o motor elétrico assegura o movimento das rodas e o motor de combustão carrega as baterias);
- IC (apenas o motor de combustão funciona, a garantir o movimento e/ou carregando as baterias);
- Regeneração (as rodas acionam o motor elétrico que, por sua vez, carrega as baterias).
Espace=espaço. Será?
“Espace” é uma daquelas designações que encerra em si mesma a principal propriedade do produto: espaço.
Com 4,72 metros de comprimento, o 6.ª modelo da Renault a receber a designação Espace é 14 cm mais curto do que a geração anterior. Porém, dados da marca, o compartimento de passageiros é mais longo, beneficiando, em espaço para as pernas, os passageiros da terceira fila de bancos.
Mas, ao contrário das cinco vidas anteriores do monovolume Renault Espace, todos os bancos do novo modelo SUV são fixos.
Apesar dos assentos traseiros continuarem a puder correr sobre calhas durante 22 cm, aceder aos dois lugares suplementares obriga a fazer mais ginástica.
Quem quiser prescindir destes bancos, que são somente rebatíveis ao nível do piso e mais indicados para crianças, preferindo de forma permanente dispor de mais espaço de bagageira, há também uma versão só com cinco lugares, que custa o mesmo e garante mais capacidade de mala: 579 a 777 litros dependendo da posição dos bancos traseiros, em vez de 477 a 677 litros no caso do Espace de sete lugares.
Rebatendo todos os bancos e apenas com os dois lugares da frente disponíveis, o espaço traseiro do Renault Espace de 5 lugares disponibiliza 1.818 litros.
Na configuração de 7 lugares e com a terceira fila de assentos “aberta”, sobram 159 litros de bagageira.
Dispersos pelo habitáculo e com maior incidência nas proximidades dos ocupantes dos bancos da frente, existem vários espaços de arrumação.
Porquê híbrido a gasolina?
Não é difícil de explicar saindo da realidade portuguesa.
Poderá vir a surgir uma versão plug-in? A Renault descarta a possibilidade, mantendo que, a partir de 2030, todos os seus modelos serão puramente elétricos.
E uma solução mecânica semelhante à E-Power utilizada pelo Nissan Qashqai, que também assenta sobre a mesma base? Uma sugestão de resposta poderia bem ser: os ganhos de eficiência justificarão o investimento?
No entanto, a nosso ver, e justificando-se abertura do mercado, uma solução híbrida plug-in, não será de todo descabida; é que o espaço ocupado pela terceira fila de bancos pode ser utilizado para colocar uma bateria de maior capacidade, naturalmente de maiores dimensões, e a tecnologia E-TECH partilhada no Clio e Megane incluía uma solução PHEV para o único modelo.
Poderia, inclusive, haver espaço para a inclusão de um segundo motor elétrico sobre o eixo traseiro.
Austral, Espace e Rafale estão a assumir-se como os novos topo de gama. Dirigindo-se a um nível de consumidores mais exigentes, a solução mecânica atual poderá no entanto ser suficiente e, em alguns mercados, oferece vantagens fiscais interessantes para todo o tipo de clientes.
Com um interior de inegável qualidade e muito bem equipado, o novo Renault Espace proporciona uma condução que desfaz qualquer preconceito inicial perante o facto de no coração da sua mecânica residir um pequeno motor de três cilindros. Para isso muito contribuem os ganhos de peso, ao conseguir ser 215 kg mais leve do que o antecessor.
Na verdade, praticada uma condução eficiente e sem ansiedade, parte do tempo podemos circular em modo elétrico. Especialmente em cidade e sobretudo em situações de trânsito intenso, onde a condução “pára-arranca” agrava o consumo.
Um dos aspetos em que o Espace mais se destaca é, porém, no comportamento. Quando equipado com o sistema 4control (de série no nível “Esprit Alpine”), que consiste num eixo traseiro direcional, que também ajuda a reduzir a capacidade de manobra, a atitude dinâmica aumenta a segurança da condução, ao contribuir para um comportamento mais equilibrada e “fácil” de controlar.