Coincidindo com o lançamento do novo Renault Kangoo, a marca francesa apresentou outra proposta de veículo comercial, mais acessível e, aparentemente, concorrente do primeiro. Em 2021, estes dois modelos convivem com a geração anterior do Kangoo. Que estratégia pode estar por detrás dessa decisão?
No segmento dos comerciais ligeiros, a classe em que concorrem Renault Express e Kangoo Van vale mais de metade das vendas em Portugal (51% até final de setembro de 2021), com um pódio preenchido por três modelos de marcas francesas, um dos quais é o Kangoo.
Como aconteceu com outros comerciais ligeiros mais recentes, para poder responder às novas exigências em matéria de segurança, nomeadamente proteção dos peões em caso de atropelamento frontal, o novo Renault Kangoo passou a ter a classificação Classe 2 nas portagens. Ou Classe 1, embora apenas se possuir um dispositivo eletrónico de cobrança, aparelho que algumas empresas sentem relutância em colocar em viaturas operacionais destinas a uso mais intensivo, invariavelmente utilizadas por mais do que um colaborador.
Ao contrário, o Express Van é sempre Classe 1 e tem um custo de aquisição menos elevado. Tendo por base o furgão que antes se chamava Dacia Dokker Van, a marca romena deixou assim de ter oferta de veículos comerciais, pelo menos até à chegada do elétrico Dacia Spring Cargo.
https://fleetmagazine.pt/2021/12/14/raynald-joly-renault-cacia/
Express vs. Kangoo
A introdução justifica grande parte das diferenças entre os dois carros: o Express Van, um conceito com interior e acabamentos mais simples do que o Kangoo, privilegia o caráter prático e minimalista, em vez do conforto em viagem; é um carro de trabalho construído para ser robusto e funcional, embora devidamente modernizado para incorporar algumas exigências atuais, nomeadamente os equipamentos de segurança e de ajuda à condução que passaram a ser obrigatórios.
Que podem ser complementados com soluções destinadas a facilitar o trabalho ou tornar mais preditiva a condução, nomeadamente sensores, alertas e até limitadores de velocidade destinados a reduzir o risco de incidentes, incluindo os que podem advir da menor visibilidade para a traseira, por causa da caixa traseira fechada.
Existe mesmo possibilidade de dispor de câmara traseira e até um retrovisor interior digital que projeta, em contínuo, imagens da câmara traseira.
No Renault Kangoo a realidade é completamente nova e diferente. Com diversas novidades, sendo a mais evidente o formato de abertura da porta lateral que, em conjunto com a abertura da porta do passageiro num ângulo de 90º, garante um acesso único ao espaço de carga. Mas esta não é a única vantagem exclusiva desta funcionalidade.
O espaço dianteiro do Kangoo Van fica também vários pontos acima do oferecido pelo Express Van, no que respeita ao conforto e qualidade de condução. O facto do novo Kangoo comercial dispor apenas de dois bancos, e porque existem empresas que preferem soluções de três lugares, a Renault Portugal realizou um stock de várias centena de unidades do modelo anterior, que dispõem deste tipo de banco.
Esta nova geração do Kangoo está ainda mais próxima de um ligeiro de passageiros: menos cansativa em viagens mais prolongadas, com melhor insonorização e, seja ao curvar, seja em manobras mais bruscas, a ausência do segundo pilar na porta do lado direito, não afeta a rigidez torsional da estrutura. Mas o ensaio decorreu sem peso na caixa de carga.
Mecânica
Os dois modelos ensaiados recorriam ao mesmo motor, o bem conhecido bloco 1.5 dCi, presente nos dois em versões de 75 e 95 cv e no Kangoo também com 115 cv.
Embora em Portugal não seja ainda uma solução muito utilizada em veículos de trabalho, os dois furgões também disponibilizam um motor a gasolina de 100 cv e um de 130 cv, com transmissão automática, no Kangoo.
Uma caixa automática também é possível no dCi de 95 cv do Kangoo, numa gama já compatível com as mais recentes normas anti-poluição Euro 6d-FULL.
Para limitar as emissões, os consumos e, já agora, reduzir as probabilidades ou a gravidade de um acidente, existe uma versão designada “Ecolider”, com a velocidade máxima limitada a 110 km/h. Por isso, com consumos e emissões homologados mais reduzidos, sem que isso interfira na capacidade de carga.
Capacidade de carga
O modelo de abertura lateral com quase 1,5 metros de largura distingue o Kangoo no seu segmento, porque tal funcionalidade junta-se e pode ser combinada com a modularidade da estrutura que separa a caixa de carga dos ocupantes, com o rebatimento do banco do passageiro e por um suporte, junto ao tejadilho, ideal para transportar objetos mais longos, até dois metros, como escalas, por exemplo.
No Kangoo, a abertura das duas portas laterais (a de correr e a convencional porta do passageiro) não obedece a nenhuma ordem específica, ou seja, podem ser abertas ou fechadas de forma individualizada. No Express van, o comprimento da abertura da porta lateral deslizante é sensivelmente de 72 cm.
Os dois modelos apresentam a mesma capacidade da caixa de carga: 3,3 metros cúbicos e cerca de 650 kg. Porém, a caixa de carga do Express Van é mais longa e mais estreita do que a do Kangoo Van, reivindicando as duas sensivelmente a mesma altura interior.
Em clara vantagem, com separador em rede basculantes e rebatimento do banco do passageiro, o Kangoo Van pode transportar objetos até 3,05 metros, enquanto o Express Van permite apenas até 2,36 metros.