A Associação Portuguesa de Leasing, Factoring e Renting (ALF) apresentou os resultados relativos a 2024 dos três sectores que representa, com os três segmentos a fecharem o ano com ganhos (3,4% no valor de créditos tomados pelo factoring, 13,6% no valor das viaturas novas contratadas em renting e até 19,9% no reforço dos investimentos em leasing).
Estes números refletem a importância do financiamento especializado no apoio às empresas, que veem atualmente no renting a solução preferencial para a gestão das suas frotas.
No ano passado, foram colocadas em circulação 38.634 veículos ligeiros novos em renting nas estradas nacionais (um total de quase 1,2 mil milhões de euros em contratos novos, o que representou um crescimento de 7,2% no número de veículos e de 13,6% no valor dos contratos). De acordo com a ALF, esta evolução no valor das viaturas deve-se, em parte, ao aumento do valor médio por viatura, que foi também impulsionado não só pela crescente adesão a unidades eletrificadas, mas também pela inflação que assolou o sector.
A frota total gerida através de renting alcançou os 2,82 mil milhões de euros em valor. Havia, a 31 de dezembro de 2024, 136.965 ligeiros em circulação em renting, dos quais mais de 80% são da categoria de passageiros.
Pedro Sobral, diretor da ALF, explica em grande entrevista à FLEET MAGAZINE que 2024 foi um ano muito positivo para o sector do renting, tendo este sido impulsionado por uma combinação de fatores:
- A aceleração da transição energética. O renting “é uma solução fundamental para facilitar o acesso a veículos elétricos, especialmente numa altura em que muitas empresas (…) ainda têm dúvidas sobre que escolhas fazer em termos de autonomia e infraestrutura de carregamento”, além de que este modelo de aquisição automóvel “permite entrar nesta nova mobilidade com flexibilidade e tranquilidade”, diz;
- A forma eficaz como o renting permitiu (e continua a permitir) às empresas alinharem as suas frotas com os objetivos de sustentabilidade e com as exigências crescentes ao nível do ESG;
- A previsibilidade dos custos do renting. “Num contexto marcado por incerteza económica, instabilidade nas taxas de juro e inflação, o renting oferece segurança ao permitir aos clientes fixar custos mensais e eliminar surpresas relacionadas com manutenção, seguro, desvalorização ou obsolescência tecnológica dos veículos”, acrescenta.
O responsável da associação refere também que o renting se tem vindo a afirmar como a solução preferencial para empresas que pretendem aceder a veículos de baixas ou zero emissões com menor risco financeiro.
Segundo Pedro Sobral, as empresas continuarão a ser o principal motor de crescimento do renting, nomeadamente através da renovação das suas frotas com unidades elétricas, prevendo ainda que – embora se possa vir a verificar alguma estagnação ou desaceleramento no mercado automóvel -, o renting continuará a crescer.
Renting e Leasing: motores da transição energética das empresas
Qual tem sido a evolução das condições de financiamento no mercado de renting?
O renting consiste num aluguer operacional de um veículo novo, geralmente, com duração entre os quatro a seis anos e reúne toda uma série de serviços relacionados com o veículo. O renting é, portanto, mais do que o financiamento do carro e as empresas de renting recorrem a fontes de financiamento para adquirir as viaturas que disponibilizam aos seus clientes, tendo para tal condições competitivas.
Relativamente à oferta do produto, tem-se verificado um aumento generalizado dos preços dos automóveis, mas que o acesso ao renting até poderá ajudar a obviar por via das poupanças que este produto permite obter e transmitir aos clientes.
Precisamente por as empresas de renting trabalharem com elevados volumes de viaturas e de serviços associados à viatura, conseguem obter economias de escala que permitem ter alguma flexibilidade face aos aumentos dos preços.
Qual o segmento de mercado que mais contribuiu para o crescimento do renting em 2024?
O crescimento do renting em 2024 foi impulsionado por diversos fatores, com destaque para a adoção de veículos elétricos e híbridos. Embora o renting a particulares já seja uma realidade consolidada, as empresas continuam a ser o principal motor do crescimento deste modelo de aquisição automóvel, com uma quota de cerca de 97%.
Quais as principais novas tendências em termos de modalidades de renting?
Nos últimos anos, o renting tem evoluído para se adaptar a exigências de mobilidade mais flexível, digital e sustentável. Há várias tendências que estão a marcar o sector, como o renting digital, 100% online. Atualmente, já é possível configurar, contratar e gerir um contrato de renting inteiramente pela internet.
Outra tendência muito clara é o renting de veículos elétricos com serviços integrados, que inclui, por exemplo, a instalação de carregadores domésticos. Este modelo tem crescido bastante junto de empresas com objetivos de sustentabilidade, mas também entre particulares que querem adotar a mobilidade elétrica.
Os clientes valorizam também a capacidade de consultoria que é oferecida pelas empresas de renting, garantindo que as decisões tomadas estão alinhadas com a realidade de cada frota tanto ao nível das motorizações como também na implementação de medidas que facilitem a transição energética.
O mercado está claramente a diversificar-se e a aproximar-se daquilo que já vemos noutros sectores — mais flexibilidade, mais digital, mais personalizado e mais verde.
Qual o impacto da regulação e das políticas públicas no mercado do renting em Portugal? Existe algum ajuste previsto no que respeita à regulamentação para os próximos anos?
O renting segue toda a legislação nacional em geral, e automóvel em particular, sendo que o impacto causado é o normal numa atividade económica, uma vez que as regras são importantes e fazem falta para manter um mercado salutar. Apesar de não se anteverem desenvolvimentos significativos neste âmbito, existem alguns aspetos que poderiam melhorar e que a ALF defende, como a desmaterialização dos DUAs e a melhoria das condições da contratação pública, que muitas vezes se afastam dos contratos base de renting ou colocam exigências que não são adequadas à realidade do negócio.
É importante salientar também que o renting foi reconhecido em 2025 com uma CAE específica para o sector, a subclasse 77112 de Aluguer operacional de veículos automóveis ligeiros, o que pensamos que poderá contribuir para continuar a dignificar e desenvolver o sector.
Como é que o conceito de sustentabilidade nas empresas tem influenciado as escolhas de veículos no renting em Portugal? Verificando os dados, e conforme já referiu, notamos que a eletrificação contribui para o sucesso deste método de aquisição. Acredita que o mercado do renting está a responder a um aumento de interesse por produtos ou soluções eco-friendly?
A sustentabilidade tem vindo a tornar-se num critério muito relevante e até estratégico nas decisões de mobilidade. Neste momento há uma preocupação crescente com o impacto ambiental da frota e com o alinhamento com objetivos de responsabilidade social e critérios ESG.
As empresas portuguesas, especialmente as de média e grande dimensão, estão cada vez mais conscientes de que precisam de reduzir a sua pegada carbónica, e o renting tem-se posicionado como a melhor solução para facilitar essa transição, pois permite o acesso a viaturas elétricas sem o peso do investimento inicial, inclui manutenção e serviços associados, e dá flexibilidade para ajustar a frota à medida que a tecnologia evolui, sem preocupações com a performance das baterias ou obsolescência tecnológica dos carros, que pode levar a uma desvalorização significativa no final do contrato.
Pensamos que mais do que responder à procura por soluções ecológicas, o renting tem liderado a transição energética automóvel.
Relativamente a outros países europeus, como é que o mercado português de renting se posiciona? Existem diferenças no comportamento dos consumidores? Têm acesso a esses dados?
Portugal tem demonstrado um crescimento notável no sector de renting tanto em termos absolutos, como relativamente ao crescimento do produto noutros países. Em 2024, o número de veículos novos contratados em renting aumentou 7,2%, com um crescimento de 13,6% no valor total dos contratos. Este desempenho destaca-se no contexto europeu, onde Portugal registou um dos maiores crescimentos no primeiro semestre de 2024, com uma expansão de 30% na locação de veículos.
Apesar deste crescimento, a penetração do renting ainda é inferior à de outros países europeus. Atualmente, cerca de 16% dos novos registos de veículos ligeiros de passageiros são efetuados por empresas de renting.
Ao nível europeu, os últimos dados disponíveis de 2023, revelam uma taxa de penetração do renting nos Países Baixos de 48%, seguindo-se a Bélgica com 44% e o Reino Unido com 35%.
Portugal, por sua vez, figura como um dos países com menor taxa de penetração, indicando uma margem considerável de evolução para os próximos anos.
Portugal está a acompanhar a tendência europeia de crescimento do renting, com um mercado em expansão e consumidores cada vez mais recetivos a esta modalidade de acesso à mobilidade.
Quais os principais desafios que o mercado de renting enfrenta em Portugal?
Apesar do crescimento acelerado, o renting em Portugal ainda enfrenta alguns desafios relevantes:
- A rede de carregamento insuficiente condiciona a transição para frotas elétricas, sobretudo fora dos grandes centros urbanos;
- Adicionalmente, o impacto da volatilidade económica e a fiscalidade, que não favorece carros empresariais, embora se tenham verificado melhorias nos últimos anos;
- Seria ainda importante fomentar um mercado secundário para viaturas elétricas usadas em Portugal, com apoios públicos direcionados para a aquisição dos usados, de forma a permitir disseminar o seu uso pela população em geral e facilitar a transição energética de forma mais abrangente.
O sector continua a inovar e diferenciar-se num mercado cada vez mais competitivo, onde surgem novas formas de mobilidade. O desafio será combinar tecnologia, sustentabilidade e flexibilidade para manter a trajetória de crescimento.
Quais foram as empresas gestoras de frota associadas em Portugal que contribuíram para os números agora divulgados?
A ALF reúne diversas empresas que operam no sector em Portugal (que são multinacionais ou pertencem a grupos financeiros, ou ambos). Estas entidades têm desempenhado um papel significativo no crescimento do renting em Portugal, com soluções adaptadas ao mercado nacional, e contribuído para o progresso do sector automóvel. Nomeamos a Arval, a Ayvens, a KINTO, a Leasys, a Locarent e a RCI COM.