A Associação Portuguesa de Leasing, Factoring e Renting (ALF) celebra 40 anos de existência. Para assinalar a efeméride, organizou um Encontro Nacional no Centro Cultural de Belém, que contou com a presença de João Rui Ferreira, secretário de Estado da Economia, João Leão, ex-ministro das Finanças, e outros oradores que, numa manhã, discutiram o financiamento especializado, a diversificação de fontes de financiamento em Portugal e também os desafios da transição ambiental e da digitalização.
Luís Augusto, presidente da ALF, destacou, na abertura dos trabalhos, o papel fundamental do financiamento especializado, nomeadamente no sector automóvel.
No último ano, o renting colocou 36 mil novas viaturas em circulação nas estradas portuguesas, o que se traduziu em mais de mil milhões de euros referentes a novos contratos e uma expressiva evolução de 53%, face aos 667 milhões de euros de 2022. Esta subida resultou do crescimento do valor médio por viatura, impulsionado pela crescente contratação de veículos eletrificados e pela inflação verificada no sector automóvel.
Luís Augusto foi reeleito presidente da ALF para o triénio 2024-2026
Em entrevista à FLEET MAGAZINE, o presidente da ALF começa por explicar que o crescimento do financiamento especializado em Portugal tem ampliado as opções das empresas e particulares quando se fala em veículos.
Considerando o crescimento do financiamento especializado em Portugal, qual a importância que o renting tem como alternativa a outros modelos de aquisição automóvel?
Ao contrário do leasing, que possibilita a aquisição do automóvel no final do contrato, o renting tem-se assumido como uma alternativa bastante atrativa e ágil para o aluguer de veículos de última geração. Prova disso são os excelentes resultados que o sector tem apresentado nos últimos anos, como é o caso das 134 mil viaturas em frota no final do primeiro trimestre de 2024 e das 36 mil novas viaturas em circulação no final do último ano.
O que é que torna o renting numa alternativa atrativa e ágil?
O renting disponibiliza um conjunto de regalias diferenciadoras aos seus utilizadores, que vão desde a previsibilidade financeira, que permite às empresas uma melhor gestão dos seus fluxos de caixa, à atualização constante das frotas, facilitando o acesso às últimas inovações tecnológicas de segurança e eficiência energética.
Apoia também estratégias de sustentabilidade através da renovação e eletrificação do parque automóvel nacional, sem nunca esquecer a possibilidade de integrar custos de manutenção e seguros no pagamento de uma renda mensal fixa.
Falou de tecnologia e eficiência energética. De que forma se perfila o renting nestes campos?
Ao nível da transição energética no sector automóvel, o renting apresenta uma vantagem significativa em relação à obsolescência da tecnologia, especialmente num contexto de rápida evolução. É um produto que permite aos clientes evitarem o risco que resulta da propriedade do bem que pode perder valor de forma mais acelerada, garantindo acesso contínuo às tecnologias mais avançadas.
Adicionalmente, os contratos de renting incluem serviços de manutenção e gestão operacional, especialmente benéficos quando novas marcas e tecnologias surgem no mercado, reduzindo assim as incertezas e desafios associados à manutenção dos veículos.
Trata-se, portanto, de um produto mais flexível…
Sem dúvida. O renting oferece flexibilidade e permite aos clientes adaptarem-se rapidamente às inovações, proporcionando uma maneira eficiente de acompanhar o ritmo da mudança tecnológica a que estamos a assistir. É uma solução ágil e economicamente vantajosa num contexto de rápida evolução das baterias e tecnologias associadas. Ao mesmo tempo, simplifica a gestão operacional e mitiga os riscos associados à obsolescência e depreciação dos veículos.
Relativamente ao desempenho no ano passado, o que podemos esperar do renting em 2024?
Perspetivamos (a ALF) que o renting dê continuidade ao crescimento positivo que registou no primeiro trimestre do ano, com mais de 23% na contratação de viaturas novas, 30% em valor de novos contratos.
Ainda assim, quando comparamos os resultados nacionais deste sector com alguns países da Europa, onde a locação operacional é amplamente disseminada entre empresas e particulares, verificamos que ainda existe margem para crescer e é neste sentido que as Associadas de Renting estão a trabalhar.
Considerando o peso que as viaturas eletrificadas já têm nas vendas de ligeiros novos em Portugal, que papel tem o renting na descarbonização do parque automóvel nacional?
Estamos a assistir a um crescimento significativo na adoção de viaturas eletrificadas (tanto 100% elétricos como híbridos) em Portugal, o que reflete uma tendência global em direção à mobilidade sustentável e à redução de emissões de carbono. E isso representa um peso cada vez maior nas vendas de ligeiros novos.
A crescente consciencialização dos diferentes agentes económicos e as imposições regulatórias europeias, como a proibição de venda de viaturas novas a combustão (ICE) a partir de 2035, estão a reduzir a utilização dos combustíveis fósseis, privilegiando as energias mais sustentáveis na mobilidade.
Uma vez que o risco operacional das baterias é assumido pelas empresas de renting, os clientes que optem pela utilização de viaturas híbridas plug-in e elétricas estão salvaguardados e sentir-se-ão mais incentivados. Tal como já acontece no leasing verde – em que se beneficia a aquisição de ativos com menor pegada carbónica –, o renting está também empenhado em reforçar o papel do sector na descarbonização do parque automóvel nacional.
O crescimento da utilização de veículos eletrificados irá também reforçar a oferta do mercado de segunda mão face a veículos ICE, contribuindo para a renovação da frota total do país com tecnologias ambientalmente mais sustentáveis.
Neste momento, sabemos que o renting foi responsável por adquirir 11% das viaturas elétricas e 27% das viaturas plug-in novas em Portugal durante o primeiro semestre de 2023. Prevê-se que estes valores estejam em crescimento, em detrimento das viaturas ICE.
A ALF dispõe de dados acerca do número de contratos de renting feitos por empresas versus particulares?
De uma forma geral, o core business do renting continuam a ser as frotas empresariais. De acordo com os dados do primeiro semestre de 2023, o universo de viaturas em renting contratadas por particulares será cerca de 2% do total.
No entanto, é importante referir que o cliente particular tende a contratar apenas uma viatura, enquanto as empresas podem contratar dezenas a centenas de viaturas. Isto significa que a percentagem de clientes particulares em relação a clientes empresa será superior aos 2%.
Temos verificado um crescimento da procura do renting por particulares, em paralelo com um maior impulso por parte das empresas de renting, procurando diversificar as opções de mobilidade dos consumidores e oferecer uma alternativa de usufruto de viaturas novas em detrimento da propriedade da viatura, com todas as vantagens e simplicidade a que as empresas já estão habituadas.