Os primeiros sinais de retoma das vendas de comerciais ligeiros serve de indicador do retorno do investimento e da confiança das empresas, revelou Ricardo Reis, docente da Universidade Católica e orador na Conferência Gestão de Frota 2015

O peso e a volatilidade que rege a fiscalidade automóvel e que obrigam todos os anos a replanear estratégias e impedem planeamentos a médio e a longo prazo das empresas é uma das maiores preocupações das empresas.

Contudo, o comércio de automóveis novos em Portugal tem sido alvo de profundas mudanças que nada tiveram a ver com a incidência fiscal.

Isto mesmo veio demonstrar Ricardo Reis, docente da Universidade Católica, coordenador de uma equipa que analisa o padrão de comportamento de compra dos automóveis. O seu trabalho de análise conseguiu estabelecer uma correlação entre as variações do PIB e a aquisição de bens duradouros, onde se inclui, naturalmente, a compra de automóveis.

“Se as vendas de automóveis ajudam a antecipar o PIB, será que o PIB ajuda a antecipar as vendas de automóveis?”, foi o repto inicial lançado por este investigador. Os primeiros indícios positivos do aumento das vendas de veículos podem representar sinais de retoma da economia nacional.

“Utilizamos as vendas de ligeiros de passageiros como uma antecipação para o consumo de bens duradouros na economia portuguesa, neste caso dos particulares”, esclareceu.

Para as decisões de empresas, é usada a venda de comerciais ligeiros. “Nas vendas de comerciais ligeiros não há um padrão de sazonalidade muito distinto, exceto aquele que decorreu em resultado do período de crise financeira”.
Por isso, os primeiros sinais de retoma das vendas de comerciais ligeiros serviram como indicadores do retorno do investimento e da confiança das empresas. A venda de pesados tem pouca correlação.

“Ao contrário da boa indicação conjuntural da curva de investimento dada pela venda de comercias ligeiros, a venda de comerciais pesados, curiosamente, tem muito pouco de conjuntural. É mais estrutural: as decisões de compra de pesados são algo que tem mais a ver com a estrutura das empresas e muito menos a ver com a conjuntura económica, devido ao tipo de veículo e sua utilização. São mais decisões de longo prazo.”

Ricardo Reis destacou ainda a importância que a venda de usados acabou por também por representar um primeiro fator indicador da inversão do mercado.

Terminando a sua apresentação com um alerta para os riscos económicos para o país que comportaria um alívio dos impostos sobre a venda de veículos, ou para o terrível impacto que uma nova crise financeira teria para a indústria automóvel, Ricardo Reis aceitou responder ao repto de uma questão colocada por um dos participantes: “É possível prever como se irá comportar o mercado em 2016?”

“Não!”, respondeu de forma categórica. “Tudo vai depender do que está a acontecer nesta altura. Aquilo que se antecipa para 2016 não é um ano fácil em termos orçamentais. Precisávamos de ter era uma situação estabilizada, um orçamento aprovado que nos pudesse dar indicações sobre o que é necessário ser feito. E, infelizmente, apesar de alguma retórica de que a crise já passou, não pisamos já terreno firme. Por isso, já é visível alguma contenção do investimento”.