“Vive-se um período de profunda mudança na atividade seguradora”. Quem o afirma é Pedro Seixas Vale, presidente da Associação Portuguesa de Seguradores que, em entrevista à FLEET MAGAZINE, tranquiliza dizendo que não são de esperar ajustamentos radicais das condições dos contratos.
O aumento da sinistralidade rodoviária em resultado de um maior número de viaturas em circulação e regras mais apertadas para toda a atividade das seguradoras europeias vão provocar uma inversão de uma tendência, que dura há uma década, da descida gradual dos prémios de seguro automóvel.
Como consequência, Pedro Seixas Vale admite que o sector vive dias de mudança e ajustamentos acionistas, com a entrada no mercado de novos players internacionais.
Contudo, o presidente da Associação Portuguesa de Seguradores mostra-se convicto que a atitude competitiva que os principais intervenientes sempre demonstraram vão manter intactas as condições concorrenciais e que as novas exigências no ambiente Solvência II acabarão por resultar numa postura ainda mais dinâmica e inovadora que se refletirá num aumento da qualidade do serviço prestado.
Qual tem sido a evolução do prémio médio por veículo automóvel em 2015?
Os últimos dados dados disponíveis, relativos ao 1º semestre de 2015, apontam para uma queda já relativamente marginal (-0,3%) do prémio médio por veículo seguro, face ao semestre homólogo do ano anterior.
A confirmar-se a tendência, poderemos assistir, ainda este ano, à inversão de um ciclo de queda sistemática do preço do seguro automóvel, que perdura há mais de 10 anos, e que reduziu em mais de 1/3 do seu valor em termos médios (de 317 euros em 2005, para 207 euros em 2014).
Que razões estão a provocar esta inflexão?
Embora infl uenciado também por outros fatores, este contexto recente não pode ser desenquadrado do agravamento da sinistralidade rodoviária que tem acompanhado a recuperação da economia, e que gerou um aumento superior a 5% do número de processos de sinistro de abertos pelas seguradoras no primeiro semestre de 2015.
O Solvência II vai forçar a uma subida do preço médio do seguro automóvel?
De um modo simplista, o Solvência II vem impor às seguradoras capitais prudenciais genericamente mais elevados e mais ajustados aos riscos efetivamente incorridos na sua atividade.
Embora de forma distinta consoante o perfi l de cada seguradora, decorrem daqui dois efeitos: por um lado, a gestão do capital e da sua remuneração tende a tornar-se mais exigente, o que acentuará a preocupação com equilíbrio económico do negócio; por outro, os riscos serão valorizados de forma mais realista e ajustada e serão incorporados na gestão do negócio de forma mais ampla e efi ciente.
Ou seja, será um contexto claramente mais exigente para a atividade seguradora. Mas se gerará, ou não, uma subida do preço médio do seguro automóvel é algo que dependerá das seguradoras e da conjuntura em que elas desenvolvem a sua atividade.
A acontecer, de que forma a subida de preço pode acontecer: só nos novos seguros, agravando os prémios por sinistros ou deverá também refl etir-se sobre seguros já contratados e sem sinistros?
Não são de esperar ajustamentos radicais das condições destes contratos com a introdução do Solvência II em Janeiro de 2016. Até porque o regime tem mecanismos de transição que visam suavizar os seus impactos.
A existirem, os ajustamentos deverão ser gradualmente introduzidos na carteira.
O Solvência II já está a provocar algumas movimentações no sector. Que reflexos poderá haver para o consumidor?
De facto, o setor segurador português vive um período de profunda mudança em muitas das suas características fundamentais, nomeadamente no que respeita ao controlo acionista sobre os seus operadores, com algumas operações de fusão, o afastamento progressivo do setor bancário e uma presença mais significativa de players internacionais.
Mas as condições concorrenciais mantêm-se intactas. O mercado segurador português é altamente competitivo, mesmo para padrões internacionais, como aliás têm testemunhado bem os clientes e beneficiários do seguro automóvel, quer no que respeita ao preço, quer à qualidade do serviço prestado.
E continuará certamente a sê-lo no ambiente Solvência II. Possivelmente, até, com uma postura mais dinâmica e inovadora.