A falta de oferta de carros novos acaba por representar uma oportunidade para os comerciantes de carros usados. As importações de veículos automóveis usados aumentou e o índice de preços tem vindo a subir. Mas continuam a faltar carros usados para venda, sobretudo veículos com até três anos
Comércio de usados : preços sobem porque faltam carros
Nos primeiros oito meses deste ano, o volume de importação de viaturas usadas aumentou 17,14% em relação a 2020, apesar das queixas quanto à redução da oferta nos mercados abastecedores europeus e dos atrasos na emissão de registos das viaturas usadas importadas de outros países da União Europeia.
Estas quase 44 mil viaturas importadas revelam um dado ainda mais significativo: representaram sensivelmente 43% das matrículas realizadas com veículos novos no mesmo período, entre janeiro e agosto de 2021.
O Observatório INDICATA, que executa uma análise mensal ao comportamento do mercado online de automóveis usados na Europa, estima que os preços de retalho de veículos usados, com até três anos de matrícula, estejam atualmente entre 5% a 6% mais elevados do que em Janeiro.
E as vendas de automóveis usados nos primeiros nove meses são mesmo mais elevadas do que em 2019, concretiza o relatório.
Contudo, também o mercado de carros usados com esta maturidade está a padecer com escassez de produto, pressionando ainda mais o aumento do preço das unidades disponíveis.
“Os níveis de stock de usados online em Outubro estão 10,3% abaixo do mês anterior e 27,7% abaixo do ano anterior”, refere Miguel Vassalo, Country Manager da Autorola.
“Uma possível razão pode estar relacionada com o sobreaquecimento da procura, ligado ao facto das necessidades dos consumidores não estarem a ser atendidas pelos novos e, por isso, procurarem veículos usados”, adianta.
Duas outras causas concorrem para a redução da oferta de usados: a diminuição acentuada das aquisições das empresas de rent-a-car em 2020 e o facto de, no ano passado, a renovação de algumas frotas empresariais ter sido adiada devido às moratórias, à incerteza quanto ao rumo do negócio ou simplesmente porque a obrigação do teletrabalho permitiu estender o tempo previsto para a utilização da viatura.
Em condições normais de funcionamento do mercado, estas unidades estariam agora a alimentar a venda atual de veículos usados.
Por fim, um terceiro fator pode também estar a pressionar o aumento do preço médio dos carros usados transacionados: a inversão dos hábitos dos consumidores, que passaram a privilegiar a aquisição de modelos com motor a gasolina, cuja oferta é mais escassa, se comparada com os automóveis usados com motor a gasóleo disponíveis no mercado.
Indústria automóvel está a reagir
Consultoras e analistas no mercado convergem nas razões que explicam o facto da indústria automóvel ser a mais afetada pela escassez de semicondutores: políticas de compra demasiado restritivas e menos competitivas para quem produz este componente (o que leva os fabricantes a privilegiarem outros compradores) e utilização de uma multiplicidade de microprocessadores diferentes para cada função, alguns dos quais com arquiteturas novas e que ainda se encontravam em fase de desenvolvimento e testes no início da pandemia.
Entre estes novos processadores encontram-se muitos destinados a garantirem o funcionamento de sistemas de ajuda à condução e de segurança, que passaram a ser obrigatórios nos veículos vendidos na União Europeia.
Um veículo pode chegar a empregar várias centenas de processadores, que servem para controlar o comportamento do motor e das emissões, os vários dispositivos de segurança e sistemas de ajuda à condução, os painéis digitais de informação, entretenimento, conetividade e navegação, os comandos de luz, climatização, abertura de portas e alarme, por exemplo.
Para contrariar esta tendência para a dispersão de componentes, a Bosch está a desenvolver novas arquiteturas eletrónicas capazes de concentrar, reduzir a complexidade e harmonizar diferentes sistemas de software automóvel.
Estes “computadores para veículos” vão substituir a multiplicidade de unidades de controlo individuais atualmente utilizadas, serão mais baratos de produzir, terão mais capacidade para adaptar/atualizar/compatibilizar sistemas operativos, prometem ser mais rápidos e ter maior capacidade de processamento de dados, além de mais eficientes no consumo de energia.
Precavendo que a situação atual se repita ou se prolongue, juntamente com a Bosch ou em parceria com outros desenvolvedores de sistemas, alguns grupos automóveis estão também a desenvolver plataformas próprias integradas e mais simples, como as utilizadas pela Tesla, com intenção de as produzirem localmente.
Uma oportunidade para a indústria tecnológica europeia, porém um processo que deverá demorar vários anos a estar implementado.
Já os fabricantes atuais de processadores estão a ficar mais ricos: a TSMC, Taiwan Semiconductor Manufacturing Company, com mais de metade da quota mundial do mercado de semicondutores, revelou, em meados de outubro, que os lucros da empresa subiram 13,8% no terceiro trimestre de 2021, sensivelmente mais 4,8 mil milhões de euros.
Este resultado levou a empresa a rever em alta as estimativas para 2021, apontando agora para um crescimento de 24%, em vez dos 20% previstos no início do ano.