Apertem o cinto. A indústria automóvel está a mergulhar de cabeça no Metaverso. Este espaço virtual, que combina as realidades virtual e aumentada, impulsionado pela inteligência artificial e pelo 5G, promete mudanças significativas na forma como construímos, interagimos e nos relacionamos com os automóveis e as marcas.
Fabricantes como a Audi, BMW, Nissan e Škoda já marcaram a sua presença digital neste domínio com showrooms virtuais sofisticados e até reproduções fidedignas das suas fábricas em ambiente digital. Estamos perante uma nova revolução que promete transformar o sector.
“O Metaverso é um mundo virtual imersivo, onde a interacção digital se aproxima da que temos no mundo real”, afirma a consultora Capgemini.
Esta tecnologia abre portas a oportunidades inéditas. Formas inovadoras de atrair clientes, diferenciar marcas e optimizar operações. A sua adopção está a crescer progressivamente, prevendo-se que o mercado automóvel no Metaverso alcance os 16,5 mil milhões de dólares até 2030, segundo a empresa de estudos de mercado Markets and Markets.
Mas como estão os construtores automóveis a aproveitar estas novas tecnologias? E quais são os desafios que se apresentam? Convido-vos a espreitar o que se passa por trás deste cenário virtual.
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Conduzir Sonhos: a evolução da experiência do cliente
O percurso tradicional do cliente – pesquisa online, visita ao stand e test drive – está a ser reinventado. Stands virtuais, como o da FIAT (Metaverse Store), oferecem uma exploração tridimensional realista dos produtos (neste caso, para já apenas o novo 500 elétrico, La Prima by Bocelli) e apoio personalizado remoto através de um avatar Product Genius.
A “Sakura Driving Island” da Nissan, no Metaverso, proporciona “test drives” virtuais do novo Sakura EV. Os condutores podem experimentar a dinâmica deste eléctrico em diferentes cenários virtuais.
O “Škodaverse” da Škoda combina jogos e conteúdo de marca. Os utilizadores podem descobrir os veículos através de realidade virtual e até criar os seus próprios NFTs (Tokens Não Fungíveis – activos digitais únicos que existem numa blockchain e não podem ser replicados). No mesmo registo lúdico a MINI revelou o seu modelo Concept Aceman na Gamescom 2022, unindo o foco no produto ao entretenimento.
No futuro, estas iniciativas poderão possibilitar test drives totalmente simulados. Imagine estar ao volante de um automóvel virtual, percorrendo paisagens surpreendentemente reais, entrando em auto-estradas ou estacionando na garagem da sua casa. E à medida que a tecnologia háptica (que simula o toque) evolui, até poderemos sentir as vibrações do motor ou a força G numa aceleração.
Engenharia no Matrix
Nos bastidores, as tecnologias imersivas já estão a transformar a produção automóvel. Utilizando o conceito de Gémeo Digital, a BMW criou um ambiente virtual colaborativo através da plataforma Omniverse da Nvidia, a qual agrega dados de diversas fontes físicas, permitindo simular processos e projectar as suas fábricas em tempo real.
“Com a plataforma Omniverse, a BMW consegue desenvolver sistemas de produção complexos de forma mais ágil e precisa”, salientou a Nvidia num artigo.
Audi e Ford também adoptaram a realidade virtual para optimizar a engenharia dos seus automóveis. Estes ambientes digitais inclusivamente já asseguraram a continuidade dos trabalhos durante os períodos de confinamento, viabilizando a colaboração remota dos designers na avaliação e ajuste de protótipos virtuais, acelerando, dessa forma, o design e o desenvolvimento de novos modelos.
Antecipa-se que a implementação do Metaverso nas operações possa potenciar um aumento de produção entre 10 a 25% e diminuir o tempo de lançamento no mercado em até 50%, conferindo uma eficiência assinalável.
Manutenção virtual
No futuro, as tecnologias imersivas poderão revolucionar também a manutenção e a reparação. Nos Estados Unidos, empresas como a Daimler Trucks e a BMW já estão a usar óculos de realidade aumentada para auxiliar os seus técnicos durante as reparações.
Sensores e câmaras poderão, num futuro próximo, permitir a realização de diagnósticos mais aprofundados à distância. Imagine um automóvel a transmitir os seus dados para técnicos que, à distância, orientam os próprios condutores nas reparações necessárias.
A formação será outra área beneficiada. As empresas terão a possibilidade de formar os seus trabalhadores de forma mais eficaz, simulando tarefas práticas num ambiente 3D, em vez de se apoiarem apenas em manuais ou vídeos.
Desafios no Horizonte
A indústria automóvel, na sua contínua busca por inovação, vê no Metaverso uma oportunidade sem precedentes para se reinventar. Porém, por trás deste novo universo virtual, emergem obstáculos reais e palpáveis. Questões como capacidade de processamento, segurança e privacidade ainda aguardam soluções definitivas, alerta a Morgan Stanley.
Além disso, as interfaces de utilizador no Metaverso ainda têm margem para melhoria. Para que a experiência seja verdadeiramente imersiva e atractiva, é necessário que estas sejam intuitivas, reactivas e acessíveis a um público mais vasto, indo além dos entusiastas da tecnologia. É expectável que a adopção em massa por parte dos consumi- dores só seja alcançada quando a transição entre o mundo real e o virtual for quase imperceptível.
Ainda assim, a tendência é clara. Com a maturação do Metaverso e das tecnologias adjacentes, os construtores automóveis preparam-se para fundir, de forma definitiva, as nossas vidas físicas e digitais. Preparem-se para uma viagem emocionante ao virar da esquina. Já agora, compraria o seu próximo automóvel no Metaverso?