Comparar segmentos nem sempre é fácil.
Apesar de partilharem motores, as especificidades próprias de cada categoria implicam consumos distintos e reflexos sobre outros parâmetros, da dotação de equipamento aos pneus utilizados.
Mesmo assim, a diferença de custos de utilização pode não ser muito acentuada. Fora os impostos, claro
Sabe-se que no que toca a ligeiros de passageiros, o segmento C representa a maior fatia de vendas das marcas para as empresas.
Ora nesta categoria convivem duas realidades: uma, de acesso, geralmente protagonizada por carroçarias de cinco portas com níveis de equipamento mais simples, e uma outra oferta, destinada essencialmente a quadros médios e comerciais de mérito, frequentemente protagonizada pelas versões carrinha.
No entanto, até bem recentemente, neste escalão habitualmente balizado nos 25 mil euros por razões de Tributação Autónoma, incluíam-se também alguns sedans do segmento D com os motores diesel mais acessíveis da respetiva gama.
Uma proposta destinada a frotas com alguma representatividade, interessante por permitir aos beneficiários rendas e custos de utilização muito competitivos, por via da fiscalidade mas não só.
A chegada do WLTP e o aumento das emissões homologadas fez aumentar a pressão sobre a negociação destes modelos ou versões, incapacitando a sua aquisição pelos valores anteriormente praticados, devido à necessidade de incluir mais tecnologia para cumprimento de regras ambientais mais complexas e exigentes.
Ou ainda porque esses motores deixaram de estar presentes na gama, como é o caso do Volkswagen Passat 1.6 TDI.
O que comparar?
Esta a razão que nos levou a querer voltar a comparar os custos de utilização das versões carrinha do segmento C, neste caso com as carroçarias Sedan do segmento imediatamente acima, no habitual estudo TCO realizado pela TIPS 4Y (*) para a FLEET MAGAZINE.
Antes de uma análise mais exaustiva à tabela, importa explicar que o critério de seleção utilizado assentou nas versões mais orientadas para frotas, com o nível de equipamento aproximado de cada um dos segmentos e decididamente com a mesma base mecânica.
No caso da Renault, foi acrescentada a versão Grand Coupé, precisamente porque a sua chegada a Portugal, dois anos depois do lançamento da gama Mégane, foi anunciada como uma alternativa ao Talisman para as empresas, face à dificuldade de continuar a garantir preços competitivos para este modelo.
Já na Volkswagen, perante o desaparecimento do motor 1.6 TDI da gama Passat, o Golf Variant considerado para análise surge também com o motor 2.0 TDI, apesar de o “diesel” mais acessível continuar presente nesta gama.
No caso da Ford, a geração Focus avaliada é a anterior, face à juventude de lançamento da mais recente.
Um fator importante, principalmente porque produz efeitos sobre os valores residuais.
Finalmente, os preços de aquisição utilizados são valores de tabela e não os praticados pelas marcas na negociação com as frotas, os montantes de manutenção são baseados nos planos de assistência apresentada para cada um dos modelos e os custos de combustível partem do valor médio homologado e de um preço por litro igual para todos os carros incluídos neste cabaz.
A importância dos residuais
Olhando com mais atenção para a tabela elaborada pela TIPS 4Y, com facilidade se percebe a importância que o valor residual tem para a contabilidade dos custos de utilização de uma viatura.
Apesar do preço mais baixo praticado pela carrinha do Ford Focus, a desvalorização elevada prevista para o modelo faz com que não seja o mais económico do cabaz em termos de custos totais, apesar de as despesas de manutenção e do combustível situarem-se abaixo da média da tabela.
Na comparação dentro de portas com o Mondeo, também de todos do segmento D aquele que apresenta um preço de aquisição menos elevado, o Focus tem um custo total de utilização pouco mais de 1.100 euros acima do Mondeo, no final dos 48 meses ou 120 mil quilómetros que servem como padrão para as análises que publicamos todas em todas as edições.
O valor residual volta a evidenciar a sua importância na contabilidade da Volkswagen que, apesar de serem os mais caros do cabaz devido à maior cilindrada do motor (mais peso fiscal), consegue atenuar não só o fator “preço de aquisição”, como as rúbricas de manutenção, consumo e IUC.
Por causa precisamente dos indicadores de desvalorização, o Passat consegue até apresentar custos de utilização mais baixos do que o Golf 2.0 TDI.
Também em evidência, a boa prestação do novo Peugeot 508 que, com o prestável novo motor 1.5 BlueHDi de 130 cv, consegue dar boa conta de si e apresentar um custo por quilómetro competitivo para a sua classe.
Na altura da sua apresentação, a marca francesa fez saber da intenção de melhorar os seus residuais na Europa e esta nova geração parece, de facto, reunir condições para o conseguir.
O veredicto
Grande parte da curiosidade desta avaliação está não apenas na circunstância de comparar duas categorias distintas, com evidenciar até que ponto a Renault fez uma boa aposta ao lançar o Mégane Sedan, perdão, Grand Coupé.
Ao olharmos para a tabela reparamos que o seu preço “oficial” alinha com o da carroçaria Sport Tourer e que há um diferencial superior a cinco mil euros entre estes e o Talisman “comparável”.
Mas em matéria de custos totais de operação, a carrinha Mégane volta a patentear a sua competitividade graças ao preço de custo, ao bom residual e aos consumos, o que ajuda a explicar o TCO mais baixo do cabaz e ainda o facto de continuar a ser tão apreciada por quem se responsabiliza pelas contas nas empresas.
Quanto ao Grand Coupé, fica-se por um custo de operação muito próximo da carrinha da Peugeot.
Conjuntamente com a Mégane, a Peugeot 308 é outra carroçaria apreciada por profissionais, gabada pelo conforto, oferta de espaço e dotação de equipamento embora, neste caso, tenham sido os custos de manutenção, pneus e combustível que permitiram à carrinha da Peugeot conseguir o segundo melhor TCO da lista.
A última das razões – os consumos – parecem ser o principal motivo porque a carrinha Opel Astra não aparece mais destacada nesta análise.
(*) Este estudo foi realizado por TIPS 4Y (www.tips4y.pt), empresa especializada na oferta de ferramentas que permitem dotar as empresas com informação estratégica de análise e de apoio à decisão. Foi publicado na Fleet Magazine, edição de novembro de 2018