O mais recente relatório do Observatório INDICATA, que tem acompanhado o mercado de usados online, revela que em janeiro de 2023 as vendas dos usados até dois anos caíram cerca de 50% e representam atualmente apenas 20,07% do mercado.

Tal deve-se “ao número significativamente menor de carros provenientes da atividade rent-a-car devido à recente pandemia da COVID-19 e também, mais recentemente, à incapacidade de os fabricantes fazerem muito em termos de registos táticos”, diz o 36.º relatório do INDICATA.

Mais diz aquele relatório: “este declínio tem sido espelhado nos níveis de stocks usados online B2C, que nos dois últimos anos caíram de quase 35% para apenas 21,67% no início de fevereiro de 2023”.

O mercado nacional de usados online B2C até aqui dependia muito de automóveis com menos de dois anos de idade, que chegaram mesmo a representar entre 40 a 45% das vendas.

Um problema com diferentes origens

  1. Os fabricantes ainda enfrentam desafios para entregarem carros vendidos (a falta de semicondutores como o maior deles), o que significa que os registos táticos apoiados pelos fabricantes continuam a ser raros, diz o INDICATA.
  2. Isto combinado com a redução das frotas provenientes da atividade de rent-a-car, reduziu a disponibilidade destes chamados “usados mais jovens”.
  3. Por outro lado, a crise do custo de vida tem forçado muitos condutores a manterem o seu carro por mais tempo, o que aliado aos longos prazos de entrega das encomendas de carros novos resulta numa realidade até aqui desconhecida: o condutor tem de manter o seu automóvel por mais tempo.
  4. E este relatório aponta ainda outra variável: mesmo quando substituem os carros, “alguns dos que procuram um automóvel usado estão à procura de automóveis mais baratos e, portanto, mais velhos”.

Todos estes fatores juntos influenciaram nos últimos 15 meses a queda das vendas de automóveis usados online B2C com menos de dois anos de idade.

O negócio de usados tem tanto de arte como de ciência

E os elétricos usados?

Se em março do ano passado as vendas nacionais de elétricos representavam 5,96% das vendas de automóveis usados, em janeiro de 2023 esse número caiu para 4,23%.

Por outro lado, os níveis de stock de carros elétricos no início de fevereiro representaram 4,04% do stock total online (o que representa um aumento de 42,8% em seis meses).

Os preços médios dos carros elétricos reduziram mais rapidamente do que os outros grupos motopropulsores (híbridos e a gasolina ou diesel). E embora isso não tenha produzido qualquer crescimento significativo nas vendas de elétricos, diz o INDICATA, estes estão “pelo menos a vender ao mesmo nível que os outros grupos motopropulsores (…) em linha com os usados a gasolina”.

Já a nível europeu…

Embora muitos países tenham manifestado o desejo de acabar com a venda de carros novos movidos a combustíveis fósseis, o mercado de usados “parece ter virado as costas aos elétricos”, refere o relatório do Observatório INDICATA.

As vendas de carros elétricos usados online B2C continuam estagnadas, quase sem crescimento na quota de mercado durante os últimos 12 meses, e embora as vendas de elétricos tenham aumentado em termos absolutos, não estão a ganhar tração dos outros grupos motopropulsores e, como tal, estão a perder quota de mercado.

E se as vendas online de híbridos usados no canal B2C viram a sua quota de mercado aumentar 23,2%, ainda são os carros usados movidos a gasolina e a gasóleo a dominarem as vendas de usados B2C em todo o continente europeu.

No campo dos retalhistas, parte do desafio que estes enfrentam é a disponibilidade imediata de elétricos usados que chegam ao mercado.

Algumas marcas “têm tido verdadeiros desafios com uma oferta excessiva de stock usado”, particularmente onde as suas vendas de elétricos novos dependem apenas de um modelo, como é o caso do Tesla Model 3, por exemplo, que viu os níveis de stock “aumentar acentuadamente”, mas algumas algumas ações de redução de preços “parecem ter estabilizado a situação e reacendido as vendas”, conclui o relatório.