Na primeira parte deste artigo apreciaram-se alguns potenciais efeitos da entrada em vigor das novas regras do WLTP podem vir a ter para o segmento dos comerciais.

Se ela implica obriga ao surgimento de mais soluções electrificadas para controlo das emissões, na verdade, as exigências de algumas cidades europeias no que se refere à distribuição urbana, também tem vindo a acelerar o desenvolvimento de mais oferta 100% elétrica.

Embora notícias refiram avanços significativos na tecnologia diesel no que respeita ao controlo de emissões, as condicionantes à circulação de motores a gasóleo em algumas cidades e os receios de que essas proibições possam tornar-se ainda mais restritivas justifica a necessidade de avançar rapidamente para soluções híbridas e 100% eléctricas nos comerciais.

“O automóvel eléctrico é uma excelente solução para as actividades de distribuição em meio urbano que é onde se concentram as maiores questões ambientais”, sintetiza Ricardo Oliveira, da Renault. Por isso “a electrificação da gama de comerciais ligeiros é uma aposta estratégica da marca”.

Ora se a Renault é precisamente um dos construtores que há mais anos têm vindo a trabalhar nesta área, propondo furgões como o Kangoo, mais recentemente o Trafic e até uma versão do Twizzy para pequenas entregas urbanas, também há que já esteja a desenvolver modelos de maior capacidade, um dos quais, aliás, é fabricado em Portugal: o Fuso e-Canter.

Porém, ao contrário dos automóveis ligeiros, onde a possibilidade de um downsizing de tipologia é mais fácil de aplicar, o mesmo não acontece num veículo comercial, principalmente quando a capacidade de carga é a razão principal da sua aquisição.

Por isso, acrescentar baterias para garantir autonomia representa também somar volume e peso, reduzindo, por esta via, a sua capacidade de transporte.

Soluções como a utilizada pela Ford para a Transit podem resolver parte da equação: uma combinação de veículo eléctrico com bateria carregável por tomada (“plug-in”), com um extensor de autonomia obtido pela produção interna de electricidade gerada pelo pequeno motor 1.0 Ecoboost da marca.

“No final do ano, lançaremos estas novas Transit e Tourneo Custom Plug-in Hybrid de tracção 100% eléctrica que, unidos ao motor EcoBoost, conseguem autonomias estimadas superiores aos 500 Km”, assegura Anabela Correia, directora de comunicação e Relações Públicas da Ford em Portugal.

Rumo ao eléctrico

Mais construtores com presença importante no segmento dos comerciais estão a acelerar a electrificação das suas frotas: a Mercedes-Benz começou com o Sprinter e gradualmente vai estender a solução ao Vito e ao Citan (neste último caso, um processo facilitado pelo facto de o Renault Kangoo já dispor de uma solução 100% eléctrica), a Fiat vai lançar o eDucato, assim como a Volkswagen já desenvolveu uma versão eléctrica do Crafter, por exemplo.

Avançadas neste processo de total electrificação de comerciais estão marcas parceiras, a Renault como já se referiu e a Nissan com a e-NV200, bem como duas do grupo PSA, Peugeot e Citroen, ambas tendo como base o comercial fabricado em Mangualde.

Mas nem tudo é eléctrico

Porém, nada disto significa o fim de soluções a gasóleo, até porque, além das razões conhecidas de operacionalidade, sobre estes incidem ainda importantes vantagens fiscais para as empresas que operam em Portugal.

Por isso, os construtores têm vindo a preparar-se para as novas normas e alguns já lançaram mesmo motores prontos para as cumprir, com a tecnologia necessária para conter emissões sem sacrifício do seu desempenho.

Em alguns casos, isso obrigou a elevar as cilindradas, ao ajuste e mesmo ao desaparecimento de versões de motor, ou à adição de sistemas híbridos ou mild hybrid, tal como vem sucedendo nos modelos de passageiros.

As maiores exigências ambientais podem também abrir espaço para outras soluções, nomeadamente o GNC (com condicionantes de abastecimento em Portugal, mas popular no norte da Europa e mesmo em Espanha ou em Itália) e o GPL, uma alternativa bastante racional em termos de TCO, devido ao preço deste combustível.

https://fleetmagazine.pt/2019/06/27/wltp-lcv-vcl-comerciais-mercadorias-setembro-2019/