ricardosilvaRicardo Silva é director comercial adjunto de business development na LeasePlan Portugal

Por: Ricardo Silva, Leaseplan

É um tema que, cada vez mais, está na agenda do dia, os “autonomous vehicles” ou veículos autónomos. Vamos avaliar o seu estádio de maturidade, como será a adaptação a esta nova realidade e os benefícios para si.

O que é um veículo autónomo e quando estará disponível?

Um veículo autónomo move-se sem qualquer intervenção humana, interpretando o meio que o rodeia com recurso à interacção de diversas tecnologias (Radar; Lidar; GPS; Odometria e Visão Computacional), capazes de adaptar a condução em fracções de segundo.

Apesar de apenas recentemente ouvirmos falar de veículos autónomos, os primeiros testes remontam à década de 80, através do projecto ALV (Autonomus Land Vehicle). Actualmente são vários os grupos automóveis a investir na massificação da tecnologia, acompanhados da concorrência de empresas tecnológicas como a Google ou Apple que ambicionam a disponibilização ao público já na próxima década.

O que nos separa de ter carros 100% autónomos?

Uma sociedade driverless será acompanhada de transformações significativas, muitas delas culturais, mas outras enquanto requisito fundamental à implementação desta tecnologia. Estes são os três principais desafios – a legislação, a segurança rodoviária e a privacidade.
Legislação e infra estruturas

A legislação actual não prevê a circulação de veículos autónomos, impossibilitando a sua comercialização. Estando em curso intensos debates sobre como o fazer, este é apontado por muitos com o principal obstáculo ao desenvolvimento mais acelerado da tecnologia.

Num carro que se desloca sem qualquer intervenção humana devem ser claras as responsabilidades. Os fabricantes de automóveis e empresas tecnológicas devem estar preparados para possíveis bugs tecnológicos, ao mesmo tempo que o sector segurador terá de se adaptar a este novo modelo de negócio, pois o risco estará mais associado à tecnologia do que propriamente à pessoa que utiliza o veículo (deixam de haver condutores responsáveis pelos acidentes).

Ao mesmo tempo, as infra-estruturas terão de ser progressivamente adaptadas de modo a tirarmos o máximo partido da tecnologia. A título de exemplo, o departamento dos transportes dos EUA anunciou no início deste ano um investimento de quatro biliões de dólares nos próximos 10 anos para criação de infra-estruturas adequadas à condução autónoma.

Segurança Rodoviária

No que respeita à segurança rodoviária, vamos beneficiar de melhorias muito significativas nos próximos anos. Actualmente 90% dos acidentes rodoviários resultam de falha humana, pelo que ao eliminarmos a nossa intervenção é expectável reduzir drasticamente o risco associado à deslocação num veículo.

Recentemente ocorreu o primeiro acidente fatal a bordo de um Tesla que se deslocava em piloto automático, o que levou a que muitos colocassem em dúvida a segurança da tecnologia. Elon Musk (CEO da Tesla) rapidamente reagiu indicando que, só no ano passado, morreram um milhão de pessoas na estrada.

Caso a funcionalidade “Piloto automático” estivesse disponível em todos os carros, o número de mortos na estrada teria sido menos de metade, permitindo salvar a vida a cerca de meio milhão de pessoas (a Tesla apresenta um acidente fatal num total de 160 milhões de kms em piloto automático, comparativamente aos veículos convencionais que apresentam um acidente fatal a cada 60 milhões de kms).

Segurança Informática

Hackers já acederam e comandaram remotamente um veículo, pelo que é essencial salvaguardar a implementação de medidas de segurança que impossibilitem (ou dificultem) este tipo de ataques.

Por outro lado, terá de ser acautelada a privacidade dos nossos dados, na medida em que estaremos mais expostos (rotinas diárias; localização em tempo real; etc.), à semelhança do que sucede já hoje com os smartphones.
Como poderão as frotas beneficiar dos sistemas de automação?

Com um enfoque muito vincado na segurança dos condutores e também na comodidade e eficiência, são já várias as soluções tecnológicas disponíveis para que possamos usufruir de uma condução semiautónoma, revelando serem poucas as barreiras tecnológicas que nos separam de ter veículos 100% autónomos a circular na estrada.

Aviso de mudança de faixa e Correcção de Trajectória

O Condutor é alertado sempre que saia da faixa de rodagem sem accionar o indicador de mudança de direcção, chegando ao ponto do veículo efectuar correcções de trajectória, uma funcionalidade essencial de combate a distracções ou caso o Condutor adormeça durante a condução.

Medidor de distâncias e Travagem Automática

Alerta o Condutor caso se verifique uma aproximação desadequada a outros veículos (velocidade relativa excessiva), chegando ao ponto de travar o veículo, evitando colisões e até atropelamentos.

Cruise Control Adaptativo

O veículo desacelera sempre que identifica um obstáculo móvel no seu caminho e/ou muda de faixa caso activemos o indicador de mudança de direcção.
Apoio ao estacionamento

Identifica um lugar de estacionamento adequado à dimensão do veículo e estaciona sozinho, sendo apenas necessário seguir as instruções de travagem e aceleração que o veículo solicite.

Piloto automático

Podemos considerar esta funcionalidade como sendo o ensaio mais próximo de veículos 100% autónomos. Carros como o Tesla Model S ou o novo Mercedes Classe E são alguns dos exemplos vanguardistas. Em velocidades limitadas, o veículo desloca-se sem intervenção do condutor.

Benefícios futuros

Bill Gates comparou em tempos a indústria dos computadores à dos automóveis, salientando que “Se a indústria automóvel tivesse evoluído a sua tecnologia como aconteceu na indústria dos computadores, hoje em dia conduziríamos carros de 25 dólares que fariam 1.000 km’s com 4 litros de combustível”.

As últimas duas décadas foram marcadas por evoluções tecnológicas fascinantes que têm melhorado significativamente alguns aspectos da nossa vida, pelo que será expectável que os veículos 100% autónomos não fujam a esta regra.

De seguida desenvolvemos 4 dos benefícios com que seremos brindados – segurança, eficiência, liberdade, economia.

Segurança

Ao eliminarmos a variável associada aos nossos comportamentos enquanto condutores, vamos assistir a uma redução significativa da sinistralidade, embora surjam novos riscos decorrentes da tecnologia e da gestão autónoma dos veículos com todo o meio envolvente.

Eficiência

As políticas poluidor-pagador têm ganho um peso considerável, sendo expectável que se venha a agravar nos próximos anos. Sermos conduzidos por algoritmos que tenham em conta as

À semelhança da mobilidade eléctrica, os veículos autónomos serão uma realidade.

A única incerteza é o momento em que tal sucederá melhores escolhas (trajectos, velocidade, número de ocupantes e paragens) permitirá optimizar o custo da mobilidade a par da diminuição dos congestionamentos e respectivo benefício para o meio ambiente.

Liberdade

Utilizar o tempo despendido outrora a conduzir noutras tarefas irá permitir uma melhor gestão do tempo e tornarmo-nos mais eficientes no dia-a-dia.

Ao mesmo tempo, veículos que não precisam de condutor, beneficiarão pessoas incapacitadas e deixará de existir um momento da nossa vida em que perdemos a autonomia para nos deslocarmos no nosso automóvel.
Modelos económicos

Os custos indirectos perderão peso e a evolução da tecnologia e técnicas de fabricação de automóveis irão permitir disponibilizar novas soluções de mobilidade.

A Google já reconheceu que o seu modelo de negócio de veículos autónomos tem por base um serviço de subscrição pay-per-use, pelo que será legítimo assumir que outras empresas irão adoptar uma estratégia equivalente, alterando assim o conceito de aquisição de automóveis.

Por outro lado uma maior racionalidade na mobilidade será acompanhada de redução dos custos.

Conclusão

À semelhança da mobilidade eléctrica, os veículos autónomos serão uma realidade. A única incerteza é o momento em que tal sucederá até porque, de acordo com o LeasePlan Mobility Monitor existe receptividade à sua utilização pois 67% dos condutores Portugueses tem predisposição para utilizar um veículo autónomo embora a maioria reconheça sentir algum natural nervosismo ao embarcar nesta experiência.

E você, está preparado? Nós cá estaremos para o “conduzir” nessa viagem.

Esperamos que este artigo tenha sido esclarecedor e que contribua activamente para tornar a gestão da sua frota mais fácil e eficiente!