A entrevista com o CEO da DS decorreu na apresentação à imprensa do DS3 Crossback, onde o diretor esteve presente para apresentar a estratégia da marca para os próximos anos.
Para os clientes empresariais, a DS tem ainda pouca presença, mas Yves Bonnefont já vê na preferência de alguns user-chooser um sinal de que pode vir a entrar neste mercado.
Em todo o caso, a qualidade do produto e tecnologia associada, bem como um cuidado muito grande na gestão dos valores residuais pode abrir portas para mais algum crescimento nas frotas.
A DS vai manter o seu portfólio nos SUV?
O nosso objetivo é lançar um carro por ano até termos um line-up de seis e depois fazer a renovação desses produtos. Temos de facto, neste momento, os lançamentos previstos como SUV, porque é uma categoria com uma boa procura. Mas vamos trazer também produtos que não são SUV.
Acreditamos que há uma expetativa dos consumidores para reinventar o sedan e o hatchback de alguma maneira e estamos a preparar produtos que vão nessa direção.
E de que forma vão fazer esses avanços nos segmentos já conhecidos?
É difícil dar detalhes, porque queremos manter isto em segredo, mas é clara a nossa aposta em rodados de grandes dimensões. Ao mesmo tempo, vemos toda a gente ir no sentido de uma eletrificação, pelo que queremos também otimizar a nossa aerodinâmica do produto.
Vamos continuar a trabalhar num conceito a que chamamos Aero SportLounge, que deixo à imaginação dos leitores como será.
Como um carro futurístico, talvez?
Espírito de avangarde [o lema da DS], chamamos-lhe nós.
Acerca da presença da DS nas vendas a empresas em Portugal: trata-se de uma marca tão exclusiva que vende os carros um a um, num mercado onde o volume é importante.
Sim, é verdade que vendemos os carros um a um. Mas as empresas também são importantes, por causa dos user-chooser, cargos de direção que têm direito a carro. Uma boa parte dos nossos carros também são comprados por PME.
É por isso que na nossa marca temos apenas seis KPI estratégicos e um deles está baseado nos valores residuais. Colocamos muito esforço em otimizar estes valores residuais, trabalhando no produto, mas também nas políticas comerciais, olhando para todos os aspetos.
Queremos ter bons valores residuais, porque sabemos a importância que este aspeto tem para os nossos clientes B2B.
E as médias e grandes empresas?
Não temos grandes ideias, porque quando uma empresa tem uma frota grande, provavelmente compra viaturas de produção em massa. Temos algumas que compram muitos carros, sobretudo em serviços financeiros onde existem grandes frotas de viaturas premium. Mas na maior parte das vezes, o nosso cliente é o user–chooser. É um gestor ou diretor que quer um DS e então vai buscar um DS7 Crossback como viatura de empresa.
E o financiamento das viaturas? Acreditam num modelo de venda especial?
Sim, acreditamos em renda mensais para todos os nossos produtos. Temos mesmo as nossas opções disponíveis em termos de pagamentos mensais para que seja fácil para os nossos clientes decidir. Isto é uma tendência e nós temos uma participação crescente das nossas vendas em rendas mensais.
Faz parte da nossa estratégia, porque pensamos que é conveniente para os nossos clientes e queremos também ter um número de serviços inovadores associados ao produto, como o DS Valet, através do qual o ciente nem sequer tem que ir à oficina para ter o carro em manutenção/reparação. Tentamos sempre trazer conveniência a pessoas que adoram os carros, mas não têm tempo para tomar conta deles.
A DS tem um lugar próprio em relação às outras marcas da PSA?
Temos um posicionamento único no grupo, como marca premium. O objetivo era mesmo este, ter uma marca premium, de forma a trazer novos clientes para o grupo.
Hoje em dia, 69% das nossas vendas na Europa vêm de clientes que não têm viaturas de qualquer uma das outras marcas do universo PSA. Outro objetivo é alavancar a tecnologia no grupo e é por isso que a marca DS é encarregue de lançar a maioria das nossas tecnologias no mercado.
E que estratégia têm para eletrificação?
Um ponto muito importante para os clientes frotistas é que os nossos carros são benchmarkt em termos de emissões de CO2.
Além disto, 2019 será o ano em que todos as nossas viaturas serão eletrificadas. O DS3, por exemplo, foi lançado quase simultaneamente em elétrico e motor de combustão. Por outro lado, vemos que as cidades começam a ter planos para ter zonas de zero emissões.
E os nossos clientes não querem limitações na sua mobilidade. É por isso que os nossos produtos têm que ser todos eletrificados, para acomodar o mercado onde ele estiver.
E a condução autónoma? Neste momento têm modelos com Nível 2, quando acham que chegaremos ao nível 4 ou 5?
Estamos a preparar a nossa tecnologia de Nível 3, que vai estar disponível nos nossos próximos produtos. As questões relacionadas com o nível 4 ou 5 têm a ver sobretudo com aspetos legais e dos seguros, mais do que com tecnologia.
Podemos avançar relativamente depressa em termos de tecnologia, mas obviamente isso tem um custo. Portanto, tem a ver com custos e regulação. Acho por isso que vai demorar uns bons anos a ter Nível 4, mas o Nível 3 vai chegar ao mercado brevemente.
A DS é uma marca pequena. Existe a capacidade financeira para evoluir no I&D necessário para ter a eletrificação, o luxo e a condução autónoma que pretendem?
É a beleza de pertencer a um grupo. Se estivéssemos sozinhos, seria muito difícil, mas somos parte de um grupo e isso é uma força estratégica, porque podemos aproveitar o desenvolvimento da tecnologia. E acho mesmo que é uma vantagem em relação a alguns dos nossos concorrentes, mesmo que sejam marcas premium maiores.
Estes investimentos são enormes e precisam de volume. É por isso que vemos algumas parcerias para desenvolver tecnologia.
Fazer parte de um grupo maior que tem uma marca premium e marcas mais massificadas é uma vantagem estratégica para a DS em relação aos seus concorrentes.