NO World Shopper Conference debateu-se a importância de antecipar tendências para responder aos anseios de uma nova geração de cidadãos mais conscientes ambientalmente e também com exigências de mobilidade mais imediatas

Quem não estiver preparado ou mostrar suficiente agilidade para antecipar tendências e responder rapidamente ao que os consumidores procuram arrisca-se a ficar para trás.

A ideia não é nova e tem sido repetidamente utilizada quando se fala sobre soluções de mobilidade aptas para responder aos desafios orgânicos das cidades e dos cidadãos que reclamam novos modelos de vida.

Um e outro factor interligam-se: por exemplo, os consumidores estão a obrigar as empresas a reverem os seus modelos de negócio se quiserem manter-se competitivas, nomeadamente com o aumento do comércio electrónico, embora isso implique substanciais alterações logísticas capazes de sobrecarregarem as áreas urbanas e os cidadãos/consumidores que nelas habitam e que, por sua vez, compadecem-se cada vez menos com aumentos de tráfego, principalmente tráfego poluente.

Mas embora o potencial gerado pelo digital e pelas comunicações possa ser um valor acrescentado, isto comporta também alguns riscos, nomeadamente ao nível da comunicação e da imagem das organizações.

Daí o desafio assumido pelas novas ferramentas de comunicação que permitem uma ligação mais fácil e directa com o consumidor final, porque a existência de menos filtros sujeita as empresas a mais riscos que exigem tempos de resposta e actuação mais curtos e eficazes.

Assuntos que acabaram por se interligar ao longo dos diversos painéis e workshops, contando com a participação de convidados internacionais e autoridades locais e nacionais, com particular destaque para o presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras.

Afinal, lidera um município onde estão a dar-se passos muito concretos no domínio da melhoria da mobilidade urbana e, mais do que a curiosidade da viatura autónoma que voltou a exibir-se durante o World Shopper Conference Iberian (na realidade, este mini-autocarro teve a sua estreia como transporte público entre a estação de Carcavelos e o edifício da Nova no primeiro dia da Conferência) – Carlos Carreiras enfatizou de novo a necessidade de promover o transporte público urbano através da criação de condições para que ele seja mais apelativo do que o privado.

Soluções focadas nos consumidores

Mas há um longo caminho a percorrer para lá chegar.

E vários foram os intervenientes que foram sinalizando esse caminho, que requer transformações das infra-estruturas mas também adaptação das mentalidades, numa clara evocação da teoria da evolução, como lembrou um dos oradores.

Um caminho onde a rapidez de transmissão, processamento e utilização de dados, de uma forma útil e proveitosa, exige o aumento da capacidade instalada de “inteligência artificial” de cada empresa para os processar, sem descurar a segurança dos utilizadores que fornecem esses dados ou a forma como eles são utilizados.

Um tempo que está a obrigar os operadores tradicionais de mobilidade, das marcas que produzem veículos, àqueles que as comercializam, a encontrarem novas formas de manterem negócios rentáveis, reinventando-o sem receio de apostar em modelos disruptivos que lhes permitam colocarem-se na liderança da inovação e, principalmente, das preferências (e necessidades) dos consumidores.

Um dos exemplo é a sueca Volvo que, paulatinamente, tem vindo a reestruturar a sua forma tradicional de negócio, evoluindo-a para uma realidade que exige lidar directamente com o consumidor final: um modelo de subscrição equiparável ao renting utilizado pelas empresas, porém mais flexível e também sustentável, ao criar condições para facilitar a partilha do automóvel entre diversos utilizadores.

Conectividade rápida é fundamental para o processo

João Barros é fundador e CEO da Veniam, start-up portuguesa que desenvolve tecnologia de conectividade para a troca mais rápida de dados entre veículos e infra-estruturas. Celeridade essencial para o desenvolvimento dos futuros veículos autónomos, mas que deve ser também precisa e segura nos fluxos de transmissão dos mesmos.

À margem dos trabalhos da WSC, na qual Rui Costa, director técnico da Veniam apresentou um painel precisamente sobre esta temática, João Barros explica a razão da sua empresa ser uma das mais reconhecidas nesta matéria a nível internacional.

“A Veniam pretende resolver um problema fundamental dos veículos de hoje e dos sistemas de mobilidade do futuro: mover enormes quantidades de dados entre os veículos e a Cloud. O aspecto mais disruptivo do software de rede inteligente da Veniam é que olha para os veículos não apenas como máquinas que transportam pessoas e bens de um lado para o outro, mas também como elementos activos das redes de telecomunicações”.

Com mais de 80 milhões de quilómetros de dados recolhidos em redes comerciais instaladas no Porto, Singapura, Nova Iorque ou Detroit, onde veículos autónomos já utilizam tecnologia da start-up nacional, Rui Costa destaca a vantagem de estar a trabalhar com algumas das maiores marcas de automóveis a nível mundial:

“Temos em vista ter o nosso software a correr em milhões de veículos daqui a poucos anos, até por via das nossas parcerias com a Bosch e a Denso, que fornecem hardware para os sistemas de comunicação de muitos milhões de veículos e estão também no pelotão da frente para equipar veículos autónomos”.

Por isso, “estamos a aprender mais rapidamente do que qualquer outra empresa o que é preciso para garantir os fluxos de dados necessários para a mobilidade do futuro”, garante.