Breve avaliação da conjuntura atual do mercado automóvel e do sentimento de gestores em relação ao comportamento da mobilidade nas empresas e respetivas frotas automóveis

Com o mercado automóvel da União Europeia a perder mais de meio milhão de matrículas em apenas cinco meses (592 mil unidades, a um ritmo de mais de 100 mil unidades/mês, valor que é ainda superior quando somados os resultados do Reino Unido e dos países da EFTA1), torna-se bastante complicado traçar um cenário favorável para 2022.

A realidade portuguesa acompanha a tendência europeia: em maio, o comércio automóvel de automóveis ligeiros acentuou a descida, face a 2021 (-7,1%) e, mais preocupante do que este resultado em si, o número de matrículas de ligeiros de mercadorias afundou 21,8%, com algumas marcas a esgotarem a quota de determinados modelos para este ano.

E isto acontece principalmente por duas razões: porque os fabricantes estão a obrigados a fazer contar para respeitar o limite médio de emissões da gama e porque a escassez de alguns componentes está a privilegiar a produção de automóveis com margens de lucro mais elevadas, o que não é o caso, por exemplo, dos veículos comerciais.

O favorecimento por modelos mais rentáveis verifica-se também nos ligeiros de passageiros, o que, em parte, pode ajudar a explicar porque a maioria das respostas dos gestores participantes no inquérito realizado pela FLEET MAGAZINE 2 (35,4%) indica dificuldade no atraso de entregas ou em encontrar modelos para construir grelhas com valores até 27.500 euros.

Afinal, é neste escalão de preço que se encontram mais carros com “versões fiscais” construídas na fronteira deste valor, cuja rentabilidade assenta no volume de unidades vendidas. Que,  atualmente, não existem na quantidade desejada.

Em contraciclo com a globalidade do mercado, sobe o volume e a quota de mercado de automóveis BEV e PHEV.

No final de maio, os automóveis exclusivamente elétricos já representavam 9% das matrículas de ligeiros de passageiros, cabendo, aos plug-in, 9,2% deste segmento1.

Porém, com comportamentos muito distintos: enquanto os PHEV não chegam a crescer 100 unidades nos primeiros cinco meses deste ano, os BEV duplicaram o volume de registos efetuados no mesmo período de 2021!

Embora cada vez mais clientes particulares estejam a comprar carros elétricos, são as frotas o maior motor deste mercado.

E assim deverá continuar a ser: 69% dos participantes do Arval Mobility Observatory, estudo global da Arval ao comportamento dos seus clientes de empresa, mostra que 69% de empresas em Portugal antecipam vir a integrar esta tipologia de viatura na sua frota ao longo dos próximos três anos, enquanto 8% já possuem viaturas 100% elétricas no seu parque e 27% conta vir a fazê-lo durante os próximos três anos.

Neste mesmo sentido vai a meia centena de respostas obtidas pelo Observatório das Frotas da FLEET MAGAZINE 3: 68,8% declara intenção de adquirir mais viaturas híbridas plug-in e 100% elétricas este ano.

O que podemos esperar?

O sentimento dos decisores nacionais é de otimismo: 96% dos responsáveis de empresas portuguesas que participaram no Arval Mobility Observatory (este estudo faz porém uma ressalva: a avaliação decorreu durante a fase pós-pandémica e termina antes do início do conflito na Ucrânia) antecipam que a sua frota se manterá estável (71%) ou até aumentará (25%) nos próximos três anos, valores que estão alinhados com a média europeia.

O mesmo indica o resultado do inquérito da FLEET MAGAZINE: apenas 2,1% dos inquiridos admite ponderar reduzir frota e 12,5% realizar um downsing dos escalões de atribuição.

Contudo, uma concentração preocupante de fatores deve prender a atenção dos gestores ao longo dos próximos meses:

  • Diversos analistas antecipam uma redução da produção global de automóveis muito superior a um milhão de unidades, perspetivando-se que, por causa da escassez de produto, deverá manter-se a pressão sobre os preços de aquisição, reduzindo, ou mesmo eliminando, as margens de desconto;
  • O aumento do preço da energia (combustíveis e eletricidade), das manutenções (com atrasos na reposição de peças de substituição e aumento do custo dos lubrificantes) estão a provocar um aumento substancial dos custos de utilização das viaturas;
  • O aumento das taxas de juro do financiamento automóvel vai provocar um inevitável aumento dos custos de aquisição e do endividamento das empresas;
  • O regresso da inflação e a incerteza quanto à sua evolução da sua trajetória (e os inevitáveis reflexos sobre o poder de compra dos consumidores) poderá contribuir para um clima de incerteza, que deverá refletir-se na revisão das avaliações quanto às necessidades futuras da frota e em relação à política de atribuição da viatura de algumas empresas.

Algumas conclusões do Observatório das Frotas Fleet Magazine a 17 de Junho de 2022 2/3

QUANTO AO MODELO DE AQUISIÇÃO:

  • 70,8% A empresa vai manter o modelo atual;
  • 25% Está a equacionar ou vai rever a política de atribuição;
  • 10,4% Está a equacionar ou vai optar mais pelo renting;
  • 8,3% Está a equacionar/utilizar soluções flexíveis como alugueres de curta duração;
  • 8,3% Está a equacionar outras soluções que não envolvam a atribuição de viatura.

EM 2022:

  • 72,9% Está a enfrentar atrasos na entrega das viaturas encomendadas;
  • 68,8% Vai adquirir mais viaturas híbridas plug-in e elétricas;
  • 47,9% Está a sentir dificuldades em construir grelhas ou encontrar os modelos pretendidos;
  • 52,1% Está a sentir mais dificuldades nas negociações de futuras aquisições/renovações;
  • 41,7% Vai reduzir o número de viaturas com motor a gasóleo;
  • 39,6% Está a renovar e adquirir viaturas como planeado.

 EM 2022/2023 PREOCUPA:

  • 87,5% O aumento de custo de aquisição das viaturas;
  • 83,3% Que os fornecedores não consigam entregar as viaturas;
  • 62,5% Que possam ocorrer alterações fiscais que se reflitam nos encargos com a frota;
  • 43,8% Que tais alterações possam condicionar o modelo atual de gestão de frota.

1Fontes: ACAP e ACEA para dados do mercado automóvel

2O Observatório das Frotas é uma avaliação dinâmica realizada pela Fleet Magazine junto de um painel de gestores de frota/decisores de compra de viaturas. Caso desempenhe estas funções na sua empresa, deseje fazer parte deste estudo e acompanhar os seus resultados, deverá fazer um pedido, através do seu email profissional, para rl@fleetmagazine.pt

3Breve ficha técnica do estudo: Quadros com questões de resposta múltipla. Número de respostas válidas: 47. Empresas: 31,3% PME, 68,8% não PME. Caracterização: 31,2% com mais de 250 viaturas; 27,1% mais de 100; 10,4% mais de 500; 10,4% 1 a 50; 8,3% mais de 750; 8,3% 51 a 100, 2,1% mais de 100 viaturas; 47,9% possui mais de 100 colaboradores, 14,6% mais 500, 14,6% mais de 250, 10,4% mais de 100, 10,4% 1 a 100 colaboradores. Financiamento: 56,3% renting presente em praticamente 100% da frota, 18,8% renting em mais de 50% da frota, 8,3% renting em menos de 50% da frota, 4,2% leasing em praticamente 100% da frota, 4,2% ALD, crédito bancário ou aquisição em menos de 50% da frota.