Imagine entrar num automóvel, definir o seu destino e, de seguida, acomodar-se confortavelmente para relaxar ou trabalhar, enquanto é transportado por autoestradas e ruas urbanas congestionadas, chegando em segurança ao local desejado algum tempo depois. Sem dúvida, esta visão remete-nos de imediato para o futuro da mobilidade autónoma, mas na verdade não é aí que eu quero chegar. Apesar de todo o entusiasmo em torno da condução autónoma, é provável que a sua adoção generalizada não ocorra tão rapidamente como se antecipou. Até que este cenário se materialize, uma outra abordagem igualmente extraordinária, embora de aplicação mais simples, poderá emergir: refiro-me à condução remota de veículos.

Esta tecnologia encontra-se em desenvolvimento e já está a ser testada em ambientes controlados, como minas, portos, armazéns e grandes propriedades agrícolas. Até agora, a sua aplicação em vias públicas tem sido limitada, no entanto, brevemente, prevê-se uma utilização mais alargada por duas razões principais.

Por um lado, a condução remota pode vingar como um complemento à condução plenamente autónoma, tanto na atual fase de testes como no futuro. À medida que a condução remota amadurece, poderá permitir que os veículos autónomos transitem em cenários de condução particularmente desafiantes, como em situações de condições meteorológicas adversas e zonas de tráfego intenso de pedestres, transferindo o controlo de forma suave para operadores remotos humanos. Esta simbiose entre homem e inteligência artificial pode facilitar a escalabilidade da tecnologia de condução autónoma de forma mais segura e rápida.

Por outro lado, pode facilitar a movimentação e entrega de veículos no contexto dos rent-a-car e carsharing. De facto, esta solução poderá bem ser o ingrediente secreto que faltava para mitigar os grandes desafios de rentabilidade apresentados pelo modelo de negócio da mobilidade partilhada. A eficiência operacional poderá dar um salto gigantesco, caso as operações remotas possam facilitar o reposicionamento estratégico de veículos em áreas de elevada procura, promovendo assim a acessibilidade e reduzindo os tempos de espera e os custos envolvidos com toda a operação.

Os sistemas de condução remota compreendem três componentes principais: um veículo equipado com sensores, câmaras e outros dispositivos que proporcionam ao condutor remoto uma visão de 360 graus do ambiente circundante; um posto de controlo remoto onde o operador pode gerir a direção, a travagem e a aceleração do veículo; e uma ligação de comunicação de alta velocidade entre o veículo e o posto de controlo. Quando ativados, os sensores e as câmaras do veículo transmitem dados em tempo real para a estação remota, permitindo ao operador manobrar o veículo com base nessa informação, mesmo a milhares de quilómetros de distância.

Várias empresas estão atualmente empenhadas no desenvolvimento de tecnologia que viabilize a condução remota. Um dos pioneiros nesta área é a Vay, uma empresa com sede em Munique que ambiciona colocar em breve na estrada uma frota de veículos controlados remotamente. Os seus fundadores, frustrados com o lento progresso da condução autónoma, idealizaram uma alternativa que pode acelerar a emergência dos chamados robô-táxis. A Vay posiciona-se como uma alternativa à mobilidade autónoma atualmente encabeçada por empresas como a Waymo, Cruise e a própria Tesla. Através da aplicação da Vay, vamos poder escolher um veículo elétrico da nossa preferência. Remotamente um humano conduzirá o veículo diretamente até ao local de recolha por nós selecionado, controlando-o a partir de um posto de controlo remoto. Após a chegada do veículo, conduzimos manualmente até ao nosso destino, como habitualmente. Ao chegar ao destino, um condutor remoto retoma o controlo do veículo, evitando assim que tenhamos de procurar um lugar de estacionamento.

A aplicação da Vay permite que remotamente um humano conduza o veículo ao local de recolha que selecionámos. Depois de o conduzimos manualmente até ao destino, o condutor remoto retoma o controlo do veículo, evitando a necessidade de procurar estacionamento.

Embora inicialmente seguindo a mesma abordagem, outro pioneiro, a Phantom Auto, sediada na Califórnia, procura agora assegurar a viabilidade económica imediata do seu negócio centrando-se em desafios mais pequenos, mas com um potencial de mercado enorme, como o sector da logística. Assim, opera atualmente várias soluções de condução à distância de camiões de estaleiro e empilhadores em armazéns e portos. Naturalmente, espera que todo este percurso de aprendizagem deixe a empresa bem posicionada para regressar mais tarde às soluções de mobilidade partilhada.

Sediada na Califórnia, a Phantom Auto centra-se atualmente no sector da logística, operando várias soluções de condução à distância de camiões de estaleiro e empilhadores em armazéns e portos. Esta aprendizagem deixa a empresa bem posicionada para soluções de mobilidade partilhada

Contudo, como acontece com qualquer avanço tecnológico, a condução remota não se encontra imune a obstáculos. Esta pode acarretar significativos desafios de segurança, nomeadamente a possibilidade de interrupção da conectividade durante a sua operação, a limitada perceção situacional por parte do condutor remoto, questões de cibersegurança e a ameaça do terrorismo, são apenas alguns dos desafios.

Apesar destas e outras preocupações como a regulamentação e atribuição de responsabilidades em caso de acidente, é incontornável que a condução remota já está a introduzir transformações substanciais na logística e promete revolucionar igualmente o sector dos transportes. Empresas como a Vay e a Phantom estão na vanguarda do desenvolvimento de soluções práticas e, num futuro próximo, a condução remota poderá afirmar-se como uma componente fundamental do futuro da mobilidade partilhada sem a presença física de um condutor.