Em 1965 nascia em Villiers-Saint-Frédéric o primeiro centro de investigação e desenvolvimento dedicado a comerciais ligeiros da Renault. 60 anos depois, em visita às instalações, a FLEET MAGAZINE conversou com o responsável máximo pelos comerciais da Renault acerca da relação que a marca mantém com os utilizadores deste tipo de veículos
Há 125 anos que a Renault fabrica veículos comerciais ligeiros (VCL). Esta experiência, adquirida ao longo de mais de um século, deu à marca francesa razões de sobra para agora abrir as portas do Centro de Villiers-Saint-Frédéric, uma estrutura física inteiramente dedicada à investigação e desenvolvimento de VCL. A FLEET MAGAZINE visitou este centro, localizado nos arredores de Paris, que tem uma área de mais de 15 hectares e emprega atualmente cerca de mil pessoas. Ali foram desenvolvidos, por exemplo, modelos icónicos como o Trafic ou o Estafette – entretanto redesenhados e redefinidos em parceria com a Flexis, sociedade independente fundada pelos Grupos Renault, Volvo e CMA CGM, numa nova gama elétrica E-Tech de comerciais adaptáveis que deverá chegar aos mercados a partir de 2026; uma clara aposta da Renault em corresponder às exigências de clientes profissionais que se encontram no decurso da sua transição energética e ecológica.

Jean-François Vial, LCV Platform Global Leader da Renault, é o homem que dá a cara pelo desempenho e resultados dos comerciais ligeiros do construtor, que baseia o design dos seus veículos em competências específicas e no conhecimento das necessidades dos utilizadores, aliando a isso a experiência em tecnologia dedicada. A unidade de Villiers-Saint-Frédéric reúne estas competências num único local, juntamente com instalações de testes que refletem o peso e a dimensão deste mercado de comerciais ligeiros. Este terá mesmo sido o principal marco alcançado pelo Centro, começa por dizer Jean-François Vial.
Como é que o trabalho realizado aqui em Villiers-Saint-Frédéric beneficia diretamente os gestores de frota e os clientes empresariais?
Aqui reunimos apenas os especialistas. As equipas de cada projeto estão reunidas num só local onde só se fala e respira veículos comerciais ligeiros. E embora esteja nesta posição há apenas cinco anos, posso afirmar que este é o sítio onde toda a equipa se concentra única e exclusivamente nas necessidades dos clientes, que são profissionais, logo muito exigentes.
E de que forma é que o feedback dos clientes acaba por moldar os comerciais Reanult?
Trabalhamos diretamente com o cliente. Por exemplo, quando preparámos o novo Trafic E-Tech ou o novo Estafette E-Tech, estivemos em permanente contacto com uma grande frota que realizava entregas de última milha. Foi essencial ouvir o cliente para perceber quais as soluções mais adequadas. Trabalhar diretamente com o cliente profissional é realmente fundamental neste segmento.
Como é que este Centro está a preparar os veículos comerciais da Renault para o desafio da transição energética, da conectividade e da digitalização?
Esse é um grande desafio. A nossa gama é variada no que respeita à energia: temos motores de combustão interna (diesel), mas estamos a preparar toda a gama para a eletrificação. Uma aposta muito forte em veículos 100% elétricos, principalmente.
E queremos tornar os elétricos cada vez mais competitivos no segmento dos comerciais ligeiros. Não esquecer que fomos os primeiros com o Kangoo elétrico.
No que respeita à conectividade e digitalização, e considerando ainda o tempo médio de vida de um comercial ligeiro, que é maior do que o de um veículo de passageiros, pensamos constantemente nessas questões e na forma como adaptamos os nossos automóveis às necessidades de conectividade dos profissionais.
Falou de soluções multi-energias. Embora já tenham oferta de combustão interna (ICE) e oferta 100% elétrica (BEV), o cliente profissional ainda se interessa muito por soluções ICE. Como vê esta realidade?
É uma questão de tempo. Para mudar a opinião dos clientes temos de ser mais competitivos nos custos (bateria, por exemplo). Dou-lhe o exemplo dos smartphones ou das TV LED: no início os custos eram muito superiores e agora esses mesmos equipamentos podem ser adquiridos por um preço muito mais acessível.

Falou sobre os desafios de desenvolver automóveis comerciais. Atualmente os construtores enfrentam normas e regras que são impostas quase numa base anual. Como é que enfrentam estas questões?
Assistimos a uma grande aceleração das normas europeias. Lembro-me de que há 15 anos estávamos mais focados na evolução do produto do que preocupados com a evolução das regras. Atualmente gasto cerca de 70% do meu orçamento para cumprir com as novas normas. E é algo completamente diferente daquilo que se passa, por exemplo, no segmento dos ligeiros de passageiros. No negócio dos VCL, se houver uma pequena mudança a fazer, tenho de considerar uma variedade de modelos e configurações que serão afetados pelas novas regulamentações. Regulamentações essas que muitas vezes pressionam mesmo a forma como desenhamos o veículo.
E isso também se reflete no preço…
Procuramos ser inteligentes e adaptarmo-nos às novas normas. Os Sistemas Avançados de Assistência ao Condutor (ADAS) são bom exemplo disso. Se as normas exigem a implementação de mais sensores nos veículos, tudo isso aumenta o seu custo. No entanto, tentamos sempre reduzir o custo para o utilizador.
Olhando para o futuro, que tipo de soluções podem os clientes esperar em termos de redução do Custo Total de Utilização (TCO)?
Por exemplo, para os novos Trafic, Estafette e Goelette, criámos um sistema onde, ao pressionar um “botão mágico”, o profissional de entregas de última milha ativa uma rotina específica para a entrega. Isso aumenta a produtividade de todo o processo de entrega – trata-se de um elemento específico destes veículos que pode efetivamente fazer a diferença.
Áreas-chave do Centro de Villiers-Saint-Frédéric
O Centro de Villiers-Saint-Frédéric tem seis áreas-chave de especialização na investigação e desenvolvimento de VCL:
- Instalações para ensaios, bancos de teste, oficinas e acústica;
- Protótipos;
- Áreas de estudo de motores e bancos de ensaio;
- Avaliações competitivas de qualidade;
- Estudos de engenharia;
- Oficina Phygital.
Nos bancos de ensaio, onde são validadas as peças físicas, componentes dos veículos (físicos ou digitais), são reproduzidas as condições de utilização mais exigentes encontradas pelos clientes profissionais.
Números de Villiers-Saint-Frédéric
- 30 meios de testes dimensionados para veículos comerciais ligeiros;
- 80 engenheiros e técnicos;
- Mais de 80 tipos de testes;
- 2.000 sensores e sistemas de medição;
- Testes 24 horas por dia, durante os sete dias da semana, todo o ano.




