Até 2025, o grupo Lactogal quer substituir a totalidade da sua frota ligeira de passageiros por veículos 100% elétricos. O objetivo é, naturalmente, reduzir emissões e, para dar seguimento à estratégia de descarbonização, está a instalar uma rede interna de carregamentos que inclui alguns postos rápidos. A poupança financeira estimada com a manutenção e energia, quando comparado com os custos realizados com as viaturas de combustão, ronda os 60%
O Grupo Lactogal integra um conjunto de siglas bastante conhecidas dos portugueses: Mimosa, Agros, Matinal, Gresso, Vigor, Pleno, Castelões, Milhafre dos Açores, Primor, Serra Dourada, Castelinhos, Serra da Penha e Fresky são algumas das suas marcas, a maioria com produtos alimentares que têm na sua origem o leite.
Criada há 27 anos, em 1996, conta com nove fábricas na Península Ibérica, sendo o grupo formado atualmente pela Lactogal Produtos Alimentares, Lacticínios Vigor, Etanor Penha e pela espanhola Leche Celta.
No âmbito da responsabilidade social, a Lactogal assume o compromisso do desenvolvimento sustentável da sua atividade diária, que, entre várias práticas, contempla o consumo racional de recursos naturais e de energia elétrica, o tratamento e a reutilização de águas residuais e a diminuição de produção de resíduos.
As emissões relacionadas com a mobilidade fazem naturalmente parte das preocupações ambientais e, por isso, a empresa está a desenvolver o trabalho da transição energética da sua frota de veículos ligeiros. Com as tarefas de gestão da frota asseguradas por uma equipa inserida na Direção Logística, a FLEET MAGAZINE conversou com Guilherme Pereira, responsável máximo deste departamento há cerca de dois anos.

Tecnicamente como descreve o projeto de descarbonização da frota?
Para compreendermos melhor o processo é essencial dividirmos a nossa frota entre as viaturas ligeiras de passageiros e as viaturas de mercadorias, que abrangem veículos pesados e ligeiros com equipamento frigorífico.
No caso das viaturas ligeiras de passageiros, até ao primeiro trimestre de 2025, a totalidade das viaturas, 108, será 100% elétrica. Em 2023 foram substituídas 63 viaturas, em 2024 serão substituídas 38 e, em 2025, as restantes sete viaturas. Relativamente aos carregamentos, a Lactogal decidiu criar uma robusta rede interna de carregamentos nas 11 localizações que estão espalhadas pelo país. Ao todo, foram colocados 53 carregadores, incluindo quatro postos rápidos de 60 kW em pontos estratégicos, para permitir realizar viagens mais longas sem a ansiedade da autonomia. Os restantes carregadores são de 22 kW.
Relativamente às viaturas de mercadorias, todas com caixa frigorífica e grupo de frio, estão a ser renovadas por novas unidades a diesel mais eficientes, logo, com consumos mais baixos. Até ao momento, não existe no mercado nenhum modelo tecnicamente capaz de suportar o grupo de frio e a carga útil necessária, com autonomia capaz de realizar os quilómetros que perfazem a maioria das nossas rotas. No entanto, juntamente com os nossos parceiros, estamos a analisar soluções que poderão cumprir tecnicamente os nossos requisitos de frio, carga útil e autonomia.
Que ganhos ou resultados esperam vir a obter?
Com a implementação do projeto de renovação para uma frota de ligeiros de passageiros 100% elétrica, assim que tenhamos todas as viaturas adquiridas, em 2025, prevemos conseguir reduzir, anualmente, 60% aos custos com manutenção e energia e diminuir as nossas emissões de CO2 em 538,2 toneladas.
No caso destas unidades, como foi planeada a atribuição e a distribuição das viaturas, precisamente tendo em conta as questões de autonomia e carregamento?
No processo de seleção de viaturas para a renovação de frota foram equacionados vários cenários, onde se incluíam outras viaturas que não eram 100% elétricas. No entanto, foi elaborado um estudo através do qual conseguimos ter conhecimento dos quilómetros médios diários efetuados pelos seus utilizadores, e isso permitiu-nos perceber que, apesar de algumas dúvidas pontuais em determinadas situações, com uma forte rede interna de carregamentos como aquela que criámos, seria possível avançar para a renovação total para viaturas 100% elétricas.
Que desafios tiveram de ultrapassar?
O maior desafio foi com a nossa equipa comercial, uma vez que era crucial assegurar condições para que esta mudança não se traduzisse em perda de tempo durante os carregamentos.
Relativamente ao uso das viaturas por parte dos utilizadores persistem dois grandes desafios: a regeneração de energia e a gestão do chamado “range anxiety”. Num carro elétrico, a regeneração de energia é um fator essencial para conseguir atingir as metas de autonomia. No entanto, isto obriga a algumas mudanças no estilo de condução, o que, para pessoas com muitos anos de condução, por vezes, não se revela fácil.
As ações de boas práticas de eco condução são uma possibilidade para minimizar este problema. O chamado “range anxiety” acontece a praticamente todos os novos condutores de carros elétricos. Os veículos a combustão têm tempos de abastecimento muito reduzidos, o que, aliado ao facto de existirem muitos postos de combustível em praticamente todo o lado, confere aos condutores destas viaturas alguma tranquilidade. Quando passa a conduzir uma viatura elétrica, que tem, geralmente, menos autonomia (quando comparada com um veículo a combustão), em que os tempos de carregamento são mais demorados e, em alguns pontos do país, a rede pública de carregamentos também é escassa, estes fatores traduzem-se geralmente no receio de “ficar parado” a meio de uma viagem.
Como é feito o acesso e a gestão dos carregamentos?
Esse foi outro desafio com que nos deparámos, a gestão dos carregamentos internos e externos, aliada à obtenção de informação para controlo de custos.
Quando iniciamos o projeto, tínhamos o objetivo de ter uma única plataforma para a gestão dos carregamentos internos e externos, num único local, onde conseguiríamos ter acesso a toda a informação relativa aos carregamentos das viaturas. Apesar de, na altura em que iniciámos o processo, não existirem no mercado muitas soluções que cumprissem com este requisito, no final foi conseguido implementar uma que acabou por se tornar num elemento chave na implementação do projeto.
Com que outros desafios se depararam, independentemente da eletrificação?
Existiram alguns desafios mas, sem dúvida, a seleção de viaturas foi o maior que encontrámos. Sentíamos a pressão da data de término dos contratos, o aumento do tempo de entrega das viaturas e, também o custo. No final, entre todos estes fatores, acreditamos que conseguimos atingir um ponto de equilíbrio.
Estas contingências levaram-nos a equacionar alterações à política de frota, nomeadamente os patamares de atribuição de viatura ou eventualmente colocar viaturas na esfera pessoal do colaborador?
De facto, os problemas que enfrentámos nos últimos dois anos com a entrega de novas viaturas e o aumento generalizado dos custos, quer de aquisição, quer de manutenção das mesmas, obrigaram-nos a alterar alguns aspetos.
Um deles foi, sem dúvida, passar a ter um “olhar” mais atento para os veículos elétricos ou eletrificados. O aumento do preço dos combustíveis e o elevado peso da Tributação Autónoma nos custos das empresas exigiu que o fizessemos.
Tivemos também de alterar o valor de aquisição em cada nível de atribuição de viatura e equacionar o tempo de utilização de cada viatura na organização.
Contudo, saliento que a principal mudança que derivou destas contingências foi o modelo de aquisição das nossas viaturas; abandonámos o AOV e optámos pela compra, de forma a contornar o aumento do valor dos juros.
Com base na vossa experiência, que sugestões dariam a uma empresa que esteja a desencadear o processo de eletrificação da frota?
Um ponto essencial para assegurar uma boa transição e potenciar a redução de custos é ter uma boa rede interna de carregamento, capaz de responder às necessidades atuais, mas, principalmente, que sejam capazes de responder ao aumento das velocidades de carregamento nos futuros modelos.
Aliado ao ponto anterior, ter um software de gestão de carregamentos internos, e externos, de forma a conseguir controlar custos e, principalmente, para poder otimizá-los.
A formação a ser dada aos utilizadores de viaturas elétricas é também essencial para ajudar à mudança de mentalidade, necessária para a boa e eficiente condução de uma viatura elétrica.
Grupo Lactogal: substituir a frota ligeira de passageiros por veículos 100% elétricos até 2025 (II)

